Título: Vaticanistas saem em defesa do Papa
Autor: Magalhães-Ruether, Graça
Fonte: O Globo, 26/03/2010, O Mundo, p. 34
Jornalistas destacam ousadia de Bento XVI ao pedir punições na Irlanda
ROMA. O escândalo envolvendo o silêncio do então cardeal Joseph Ratzinger acerca de um padre pedófilo nos Estados Unidos mobilizou, além da opinião mundial, os repórteres que acompanham o dia a dia da Santa Sé. Tentando entender o tratamento do Vaticano às denúncias de abuso, vaticanistas ouvidos pelo GLOBO são unânimes em afirmar que o caso não diz respeito a pecados ¿ mas a crimes, palavra pouco comum aos documentos da Igreja Católica.
¿ É evidente que o crime de abuso sexual é ainda mais intolerável se cometido por um religioso. Mas devemos ter consciência de que a mídia e os políticos, para simplificar um problema grave, procuram sempre um bode expiatório. Precisamos questionar o que fez antigamente a Igreja e o que está fazendo agora, sob o comando de Bento XVI ¿ avaliou Salvatore Izzo, da agência de notícias Italia
Para os jornalistas Marco Tosatti, do diário ¿La Stampa¿, e Sandro Magister, do semanário ¿L'Espresso¿ ¿ que há vários anos observam e comentam a política da Santa Sé ¿ as atitudes de Bento XVI têm mostrado algum avanço na tradicional ¿política do avestruz¿, adotada no passado, quando o Vaticano preferia ignorar ¿ ou fingir ignorar ¿ denúncias de abuso sexual.
¿ Bento XVI fez o que nenhum papa dos últimos séculos teve a audácia de fazer: dar ordens a toda a Igreja da Irlanda, pedindo que culpados fossem levados a tribunais canônicos e civis, além de fazer coletivamente penitência e purificação ¿ destaca Magister.
A seriedade e firmeza que Bento XVI demonstrou em atos públicos e religiosos, ao condenar insinuações de conivência, cumplicidade ou tentativa de acobertar crimes sexuais nas fileiras da Igreja impressionam os vaticanistas. Por enquanto, eles são unânimes na defesa do Pontífice.
¿ Ninguém pode acusar Bento XVI de justificar o injustificável ¿ arrisca Tosatti. ¿ Nem os piores inimigos, se forem sinceros ¿ emenda o jornalista.
Magiste lembra que é absurdo considerar referências do Papa ao perdão para pecadores como prova de tolerância com seus crimes.
¿ O Papa abre a porta do perdão de Deus até para o criminoso mais abominável, se estiver sinceramente arrependido ¿ afirma Magister.