Título: Emprego resistente
Autor: Flores, Mariana
Fonte: Correio Braziliense, 14/06/2009, Economia, p. 21

Apesar do estrago provocado pela crise mundial, o mercado de trabalho se mantém firme no DF. Das 48,4 mil vagas formais criadas entre janeiro e abril em todo o país, quase 24% foram abertas na capital federal

A chef Lilian Pelliccione ampliou sua empresa e mais que dobrou o quadro de funcionários. Entre os contratados está Shisley Lopes O mercado de trabalho brasiliense está conseguindo se blindar dos impactos da crise econômica que se alastrou pelo país. Apesar de a geração de emprego não seguir o mesmo ritmo do ano passado e de alguns setores só terem começado a reagir em abril, dos 48,4 mil postos de trabalho formais criados nos quatro primeiros meses do ano em todo o Brasil, 23,7% estão no Distrito Federal. O número é expressivo, considerando que a capital federal detém apenas 1,3% da população brasileira e contribui com 3,8% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional.

A diferença entre demissões e contratações feitas no DF resultou em um saldo de 11.491 trabalhadores com carteira assinada no primeiro quadrimestre de 2009, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), do Ministério do Trabalho (veja quadro abaixo). Desses, apenas 1% foram contratados pelo setor público, o que mostra uma mudança no mercado de trabalho da cidade, que, por muito tempo, teve como base o governo como empregador. O volume de postos de trabalho gerados ainda é pequeno considerando um contingente de mais de 239 mil desempregados no DF. Mas é animador em momentos de desaceleração econômica.

As 48,4 mil vagas criadas no Brasil entre janeiro e abril representam apenas 5% do total registrado no mesmo período do ano passado. Já as 11,4 mil do DF equivalem a 77% do saldo do primeiro quadrimestre de 2008. ¿Brasília sentiu os efeitos e reduziu o ritmo de contratação, mas em proporção muito menor do que no restante do país. O impacto aqui é menor até pelo perfil do mercado de trabalho. Como tem muito servidor público, que não sofreu com a crise, a renda continua firme¿, afirma o economista do Conselho Regional de Economia do DF (Corecon-DF) Júlio Miragaia. ¿O setor de serviços foi o que menos sofreu e a economia de Brasília é baseada em serviços. Por outro lado, a indústria, que é quem mais está sofrendo, não tem peso grande por aqui¿, completa.

Das pessoas contratadas, 72% estão em empresas prestadoras de serviços. Só os bares, restaurantes e hotéis da cidade admitiram 5.705 profissionais. De acordo com o presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes e Bares e Similares de Brasília (Sindhobar), Clayton Machado, o aumento se deve a um incremento no número de estabelecimentos. Na indústria o saldo foi positivo em 223, mas vale a comemoração, pois no restante do país, o setor está entre os que mais demitem. ¿A expectativa é de bons resultados até o fim do ano¿, afirma o presidente da Federação das Indústrias do DF (Fibra), Antônio Rocha.

O setor agrícola registra atualmente 487 empregados formais a mais do que no fim de 2008. ¿Como não ampliamos muito a área plantada, acho que o que está aumentando é a formalização, por isso os números indicam esse incremento¿, afirma superintendente da federação, Mansueto Lunardi. Por outro lado, o comércio varejista, importante empregador da cidade, está com um quadro de funcionários inferior desde o início do ano. O saldo está negativo em 210 pessoas. ¿Os empresários estão cautelosos em contratar, mas, apesar do receio, estão começando a reagir. Depois de um período morno, o comércio está começando a vender mais e a tendência é melhorar¿, afirma o presidente do Sindicato do Comércio Varejista do DF (Sindivarejista-DF), Antônio Augusto de Moraes.

Mais exigentes O enfraquecimento da economia não assustou a chef Lilian Pelliccione que, em maio, ampliou a empresa de comida congelada e abriu um restaurante especializado em comida italiana. Ela contratou quatro funcionários para auxiliar os três que já faziam parte do quadro. ¿Foi um tiro no escuro, mas o resolvi atender a demanda dos clientes¿, conta. Mas Lilian se tornou mais exigente na contratação e não está contando mais só com a indicação de conhecidos. Contratou uma empresa de seleção de pessoal para ajudar a fazer a triagem dos currículos que recebe.

Foi desta forma que Shisley Lopes, de 20 anos, foi selecionada pela chef. Há seis meses, a moradora da Ceilândia procurava um emprego. ¿Estava muito difícil achar uma oportunidade e preciso do dinheiro para ajudar meus pais em casa¿, afirma. O aumento das exigências já é sentido, segundo a consultora de recursos humanos Marillac de Castro. ¿As empresas abriram o leque das exigências. Querem pessoas que possam dar contribuição para outras áreas além da que são especializadas¿, completa.