Título: Rotina movida a ilusão
Autor: Paiva, Paulo
Fonte: Correio Braziliense, 14/06/2009, Economia, p. 26

A palavra ¿ilusão¿ é uma das mais ouvidas entre os homens que trabalham no garimpo. Outra expressão bastante usada é ¿cruel¿. José Carlos Rodrigues, de 43 anos, está há 21 na profissão. ¿O garimpo de diamante é uma atividade cruel. A gente pode ter sorte e achar uma pedra em poucos dias ou passar meses sem achar nada¿, diz. A sorte sorriu para Rodrigues há alguns dias, quando encontrou, na bateia, um diamante de aproximadamente três quilates, avaliado em cerca de R$ 2 mil. Mas a sorte não costuma sorrir sempre.

¿Fiquei 10 anos sem encontrar nada. Isso aqui é só ilusão¿, concorda Sinval Isoldino, o mesmo que foi obrigado a vender a pedra da sua vida para os atravessadores locais. Os comerciantes e atravessadores, esses sim, se dão bem ¿ e jogam pesado. ¿Há pouco tempo, um garimpeiro tentou vender uma pedra de 72 quilates diretamente para o Ahmad (o comerciante africano/libanês/belga investigado pela PF) por R$ 540 mil. Ahmad aceitou, mas os atravessadores ficaram sabendo e ele retirou a oferta. Então, eles compraram por R$ 470 mil. O garimpeiro perdeu R$ 70 mil¿, conta Isoldino.

A expectativa é de que esse quadro mude com o crescimento da Cooperativa de Garimpeiros de Coromandel (Coopergac), que já ameaça essa turma da pesada. E os planos da entidade são ambiciosos. Depois de fazer sua primeira exportação de diamantes para a Bélgica, a Coopergac quer entrar na Bolsa de Diamantes de Israel, uma das maiores do mundo (só perde para a belga), que movimenta US$ 10 bilhões por ano. ¿E estamos negociando também com um grupo suíço, que tem interesse em diamantes menores¿, revela Darío Machado Rocha, fundador da cooperativa.

Coromandel abriga cerca de 3 mil garimpeiros, quase 10% da população da cidade. Mas a cooperativa espera que, com a crise mundial e a queda nas vendas e nos preços de diamantes, empresas estrangeiras abram mão do direito de lavra na região, que seria arrematada pela Coopergac. Dessa forma, a entidade poderia ampliar o número de cooperados. ¿Hoje, temos uma área útil de 100 hectares. Não há como abrigar mais gente¿, explica Darío. (PP)