Título: Lula, Dilma e Serra dividem o mesmo palanque, com provocações
Autor: Barbosa, Adauri Antunes
Fonte: O Globo, 26/03/2010, O País, p. 4

"Esperança vem vencendo o medo", afirma ministra, ao lado de tucano

TATUÍ (SP). Adversários na eleição presidencial, os précandidatos do PT, ministra Dilma Rousseff, e do PSDB, governador José Serra, dividiram o mesmo palanque ontem, em solenidade comandada pelo presidente Lula. O objetivo era a entrega de 650 ambulâncias adquiridas pelo governo federal para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), distribuídas a 573 municípios paulistas. Mas a política não ficou de fora, com troca de provocações.

Ao lado de Serra, Dilma disse que a esperança, mais uma vez, vem vencendo o medo no Brasil, repetindo o slogan da campanha vitoriosa petista sobre o tucano em 2002: É aquele movimento em que o Brasil dá um passo para a frente, ergue a cabeça, e nós podemos transformar o nosso Brasil. Vamos fazer isso centrados nessa imensa força e com esse sentimento de esperança que, mais uma vez, vem vencendo o medo no Brasil disse a pré-candidata, que, no entanto, conversou muito, e até trocou beijinhos no rosto com o pré-candidato tucano.

Dilma e Serra defenderam seus governos no palanque montado para a entrega das ambulâncias, em Tatuí, a 120 quilômetros de São Paulo.

Enquanto a ministra citou no evento as políticas do governo federal para a área social, elogiando o trabalho do presidente Lula, o governador, que se sentou entre ela e Lula, referiu-se ao seu trabalho na saúde, no aparelhamento de ambulâncias e hospitais.

Citou ainda sua gestão como ministro da Saúde no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, cujo nome não citou.

Lula critica fim da CPMF

A seu favor, Serra mencionou uma pesquisa feita, por meio de cartas, para 600 mil usuários do SUS em São Paulo, que avaliou o serviço prestado, dando nota de 0 a 10. A média, segundo o governador, foi de 8,65.

Isso dá uma medida da qualidade do serviço afirmou o tucano, lembrando ainda que, nos últimos três anos, período em que assumiu o governo, foram construídos dez novos hospitais, com 1,2 mil leitos e 150 leitos de UTI.

Aproveitando o palanque, o pré-candidato tucano devolveu a alfinetada dada por Dilma e criticou o sistema de saúde brasileiro: Nós temos que aperfeiçoar o nosso sistema de saúde.

Temos que torná-lo cada vez melhor, cada vez com o atendimento de primeira classe. Podemos ter avião de primeira, segunda e classe turista, mas não podemos ter, na saúde, serviço de primeira e serviço de segunda classe. Saúde tem que ser serviço de primeira classe para todo mundo, e esse é um trabalho que nós estamos perseguindo provocou Serra, que deve anunciar sua pré-candidatura à Presidência no próximo dia 10.

Assim que terminou seu discurso, Serra foi cumprimentado por todos e estendeu a mão para Dilma que, sem perceber o gesto, estendeu o rosto e trocou beijinhos com o governador tucano.

Quando o presidente Lula discursou, no entanto, não poupou críticas à oposição, lembrando que, em 2007, os partidos oposicionistas conseguiram barrar no Senado a prorrogação da CPMF. Parte dos R$ 40 bilhões arrecadados pelo tributo era destinada à saúde. Para Lula, a postura dos senadores de oposição foi uma mesquinharia.

Fiquei muito magoado e ofendido quando a minha oposição no Senado derrubou a CPMF. Eu não conheço um empresário no Brasil que reduziu do custo do seu produto 0,38%, que é o que a gente pagava no cheque disparou o presidente.

Lula ainda deu um recado ao próximo presidente: Quem quer que seja o presidente da República depois de mim vai ter que discutir mais dinheiro para a saúde. Não tem alternativa.

Não é possível fazer saúde neste país sem dinheiro, custa caro disse Lula, lembrando que hoje tem um tratamento diferenciado, pois, quando vai ao hospital, tem até 30 médicos, mas quando deixar de ser presidente não vai ter o mesmo tratamento: Político sem mandato nem vento bate nas costas.

Mais tarde, num evento no Instituto do Câncer, em São Paulo, Serra foi lacônico na discussão sobre a CPMF.

Não é um assunto que está posto desconversou.

Durante o discurso de Lula, Serra conversou com Dilma.

O presidente, que falou por último, criticou, sem citar nomes, a mesquinharia de um prefeito do Rio de Janeiro (Cesar Maia, do DEM, que apoia Serra). Lula afirmou que Cesar escondeu 80 ambulâncias, para não mostrar que eram do governo federal, e dificultou a inscrição da população no programa Bolsa Família.

Mais uma vez, o presidente disse que não abre mão de mostrar o que faz, revelando porque tinha ido a Tatuí entregar 650 ambulâncias do Samu. O presidente voltou a criticar a imprensa: Se eu não venho, não vai sair nenhuma nota de rodapé em qualquer jornal do país afirmou Lula, lembrando que vai voltar à cidade do interior paulista, em julho, para entregar mais 1.662 ambulâncias.