Título: Dia de xeque árabe em Ramallah
Autor: Oliveira, Eliane; Kresch, Daniela
Fonte: O Globo, 18/03/2010, O Mundo, p. 29

De lenço palestino nos ombros, Lula é recebido com entusiasmo RAMALLAH, Cisjordânia. Aos gritos de ¿Viva Lula!¿ e ¿Olê, olê, olê, olá, Lula, Lula!¿, dezenas de palestinos ¿ a maioria de origem brasileira ¿ receberam com cartazes e bandeirolas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Ramallah, na Cisjordânia. Eles não economizaram nas palmas e no entusiasmo ao presenciarem a inauguração da Rua Brasil num dos locais mais nobres de Ramallah: em frente à Muqata, a sede do governo palestino e onde fica o mausoléu do ex-líder Yasser Arafat.

¿ Lula sempre lutou pela nossa causa. Ele é dos nossos ¿ assegurou o palestino Mohamed Jaraba, de 45 anos, que morou mais de 20 anos em Rondônia e viajou por mais de uma hora para receber Lula com um cartaz dizendo ¿Querido presidente, o povo palestino agradece seu apoio¿.

O presidente não escondeu a satisfação com as calorosas boas-vindas, dignas de um astro de cinema.

Foi a recepção mais animada de sua visita de quatro dias a Israel e os territórios palestinos, mesmo que contando com poucas dezenas de barulhentos simpatizantes, que soavam como centenas.

Na presença do primeiro-ministro palestino, Salam Fayyad, o líder brasileiro vestiu uma kaffiyeh, lenço árabe tradicional quadriculado, símbolo do partido Fatah, do presidente Mahmoud Abbas, e marca registrada do fundador do partido, Yasser Arafat.

¿ Pela forma como nosso convidado foi recebido, é óbvio que ele é querido mesmo por quem não fala português ¿ brincou Fayyad. ¿ O presidente Lula fala numa língua internacional, que todos entendem.

A língua do Brasil.

Lula depositou uma coroa de flores no túmulo de Arafat. Isso depois de ter se negado a visitar outro túmulo, em Jerusalém: o do fundador do sionismo, Theodor Herzl, no dia anterior, em Israel.

A recusa irritou a Chancelaria israelense e levou o ministro das Relações Exteriores do país, Avigdor Lieberman, a anunciar um ¿boicote¿ à visita do presidente brasileiro.

Apesar das boas-vindas que recebeu em Ramallah, o presidente Lula não conseguiu agradar a todos.

A ONG palestina Stop the Wall (Pare com o Muro, em referência ao muro israelense erguido na Cisjordânia) criticou o bom relacionamento entre Brasil e Israel e a assinatura do acordo de livre comércio entre o Mercosul e o Estado judeu, que inclui a compra e venda de armas entre os dois parceiros. A ONG acusou Lula de ¿cumplicidade com as guerras e a ocupação israelense¿. (Daniela Kresch)