Título: Manchas entrelaçadas
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 15/06/2009, Política, p. 4

Engana-se quem pensa que, com o Senado na berlinda, saiu de cena a mancha de óleo da CPI da Petrobras. Pois a comissão está criada e é preciso saber o que fazer com ela.

Há três semanas, quando a oposição conseguiu números suficientes para instalar a CPI da Petrobras, senadores das mais diversas tendências políticas comemoraram o fim do inferno astral do Senado. Era chegado o momento em que o Poder Executivo, leia-se o PT e o grupo mais ligado à ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, iria comer o pão que o diabo amassou.

Os casos recentes mostraram que não foi bem assim. Os atos secretos divulgados recentemente, a nuvem de fumaça sobre o casal João Carlos Zoghbi e até mesmo o auxílio-moradia colocaram o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), na berlinda. Sinais de que o Senado está longe de conseguir se livrar da imagem de que ali basta ser amigo do rei, ou o próprio rei, para ser dar bem e ganhar um posto ao sol.

Engana-se quem pensa que, com o Senado na berlinda, saiu de cena a mancha de óleo que arrasta a Petrobras. Embora essa CPI não tenha a força que a oposição esperava __ e, registre-se, nem os oposicionistas estão de corpo e alma na empreitada__, a comissão está criada e é preciso saber o que fazer com ela. E, enquanto essa solução não vem, cada um se aproveita da situação como pode.

O PMDB, por exemplo, usa o momento para tentar democratizar, ou melhor, dividir a gestão da empresa de petróleo do país. Trabalha para tirar do petista José Gabrielli o posto de comandante supremo, do tipo que não dá satisfações a ninguém, a não ser ao presidente Lula e à ministra Dilma Rousseff. Por mais que a Petrobras negue critérios políticos na hora de repartir seus recursos sociais, os caciques do PMDB ficaram indignados ao saber que os petistas receberam R$ 21 milhões em 36 transferências e o PMDB, R$ 4,8 milhões em 38.

Além da guerra interna com o PMDB, o governo terá que se preparar ainda para saciar o apetite dos demais aliados, que descobriram ali, na Petrobras, uma forma de conseguir um naco de recursos e desejam uma parte desse bolo. É ponto pacífico entre os partidos que apoiam o governo que a administração dessas verbas terá que ser refeita de modo a atender a todos os partidos que têm alguma importância para o governo.

Os alvos Outro ponto que os partidos pretendem acertar com o governo é de quem será a cabeça a ser entregue como um troféu dentro da CPI da Petrobras. Afinal, toda CPI tem o seu culpado. A oposição já declarou em alto e bom som que não deseja atingir Guilherme Estrella, diretor de Exploração e produção da empresa, vulgo ¿fura-poço¿. Sendo assim, estão todos os setores da política de olho, ávidos por descobrir quem será a vítima dessa CPI.

Sem Estrella, todos os demais ficam expostos. Nem mesmo Almir Barbassa, o diretor financeiro, está fora da bolsa de apostas, depois que a empresa deixou de recolher R$ 4 bilhões em impostos. E, diga-se de passagem, o governo deve estar com o cofre tão cheio quanto a caixa forte do Tio Patinhas, uma vez que hoje ninguém nem fala mais desse dinheiro e desse braço que a CPI deve puxar.

Na mesma vitrine entrarão Wilson Santarosa, petista, diretor de comunicação institucional que cuida dos patrocínios, e Paulo Roberto Costa, o comandante da Diretoria de Abastecimento, que tem sob seu guarda-chuva a Transpetro de Sérgio Machado, leia-se Renan Calheiros. Virar a metralhadora para o setor de Abastecimento e, por tabela, para a turma do PMDB que hoje está na Petrobras deixará o clima no Senado ainda mais turbinado, para a alegria dos jornalistas. Mas, para as relações interpartidárias de apadrinhamento, será um tumulto capaz de misturar as manchas da administração do Senado com as nódoas da Petrobras.

Há quem diga que, no meio de todo esse tiroteio interno do Senado, está se formando um ponto de intersecção com a CPI da Petrobras. Do mesmo modo que hoje a turma de Renan acusa o grupo do PT __Tião Viana e Aloizio Mercadante __ de querer lhe tirar espaço, há quem veja um jogo de empurra entre o grupo de PT de Sérgio Gabrielli e a turma do PMDB na Petrobras. E, pelo andar da carruagem, essas duas manchas estarão cada vez mais misturadas nos bastidores. E, com a instalação da CPI iminente, será difícil separá-las. Caberá aos senadores, aos jornalistas e ao eleitor fazerem o trabalho.