Título: Contas externas têm pior fevereiro desde 1947
Autor: Oswald, Vivian
Fonte: O Globo, 23/03/2010, Economia, p. 24
Déficit em transações correntes soma US$ 3,25 bi, o maior já registrado para o mês. Investimento direto bate recorde
Vivian Oswald
BRASÍLIA. O Brasil registrou déficit em transações correntes de US$3,25 bilhões em fevereiro, o pior para este mês na série do BancoCentral (BC) iniciada em 1947 , num resultado que surpreendeuanalistas, que previam número negativo entre US$ 1,8 bilhão e US$ 3bilhões. O déficit foi consequência de uma deterioração na maioria dosindicadores que compõem as trocas de bens e serviços do país com oexterior.
Houve aumento expressivo de gastos com viagens,transportes e aluguel de equipamentos no exterior (usados para novosinvestimentos no setor produtivo brasileiro). Além disso, a balançacomercial vem acumulando saldo considerado fraco pelo BC neste iníciode ano.
Diante da conta corrente no vermelho, o BC revisou parapior suas estimativas para o saldo das transações externas em 2010.Agora, espera déficit de US$ 49 bilhões, que, se confirmado, pode ser opior resultado desde 1947. O maior déficit registrado pela série do BCaté agora é o de 1998, de US$ 33,4 bilhões.
Em março, China é oterceiro maior investidor no Brasil Este pode ser ainda o primeiro anodesde 2001 em que os investimentos estrangeiros direto (IED, recursosaplicados pelo setor produtivo) no Brasil não vão compensarintegralmente o desempenho negativo das contas externas, embora o BCestime que a entrada desses recursos deva bater recorde este ano. Peloscálculos da instituição, o IED será de US$ 45 bilhões este ano, o maiorde todos os tempos. Em 2001, o déficit em transações correntes foi deUS$ 23,21 bilhões, compensado apenas parcialmente pelo IED de US$ 22,45bilhões.
Mas isso não chega a ser uma preocupação, porque ofluxo de recursos está vindo muito forte. Aparentemente, osinvestidores entendem que o Brasil é um país com risco controlado e nãotem ameaça de explosão das contas externas diz o estrategistachefe doBanco WestLB no Brasil, Roberto Padovani.
O investimentoestrangeiro direto somou US$ 2,84 bilhões no mês passado, o melhorsaldo para fevereiro da série do BC. Mas não foi suficiente para cobriro saldo negativo das transações correntes. Dados antecipados para marçomostram que o IED deve fechar o mês em US$ 1,5 bilhão, com uma novidadeimportante: pela primeira vez, a série registra a entrada maciça decapitais da China. O país asiático já estreia em terceiro lugar entreos países que mais investiram no Brasil (com US$ 354 milhões, perdendopara Bermudas, com US$ 649 milhões, e EUA, com US$ 516 milhões).
Parao chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, este deve ser oprimeiro de muitos meses de destaque chinês e reflete investimentos naextração de minerais metálicos destinados à exportação. O BC prevêingresso recorde de IED este ano: US$ 45 bilhões. Em março, até o dia22, o montante soma US$ 1,1 bilhão.
No acumulado do primeirobimestre, o ingresso de investimentos produtivos atingiu US$ 3,639bilhões e, nos 12 meses encerrados em fevereiro, US$ 25,689 bilhões, ocorrespondente a 1,52% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bense serviços produzidos pelo país). Já os investimentos brasileirosdiretos no exterior também bateram recorde em fevereiro, com US$ 4,18bilhões.
No bimestre, já somam US$ 5,42 bilhões, o que também é inédito para o período.
OBC refez os cálculos para as contas de viagens, prevendo agora umdéficit de US$ 7,5 bilhões em 2010, ante US$ 7 bilhões da previsãoanterior, devido às viagens de brasileiros ao exterior. Confirmado onúmero, será um recorde histórico.
E a explicação para o ímpeto dos brasileiros em viajar e gastar no exterior não está associada somente ao câmbio.
Segundo Lopes, do BC, é o aumento da renda e do emprego na economia a principal razão para esse movimento.
O componente viagem no ano passado não sofreu tanto assim. O déficitficou em US$ 5,6 bilhões, o que não é pouco para um ano de crise.
Atémarço, saldo comercial tem queda de 65,9% A balança comercial teve umdéficit de US$ 48 milhões na terceira semana deste mês, entre 15 e 21de março. As exportações somaram US$ 3,416 bilhões, com média diária deUS$ 683,2 milhões, e as importações atingiram US$ 3,464 bilhões, sendoa média por dia útil de US$ 692,8 milhões. No mês, há superávit de US$534 milhões.
E, no ano, até a terceira semana de março, o saldocomercial acumula superávit de US$ 761 milhões, com média diária de US$14,4 milhões, cifra que ficou 65,9% abaixo da média diária observada nomesmo período de 2009 (US$ 42,1 milhões).
COLABOROU Eliane Oliveira