Título: Petrobras descarta elevar dívida
Autor: Boas, Bruno Villas; Beck, Martha
Fonte: O Globo, 27/03/2010, Economia, p. 33

Se projeto de capitalização for rejeitado, opção seria emitir ações

RIO e SALVADOR. A Petrobras não vai aumentar sua dívida e searriscar a perder o grau de investimento para se capitalizar. Aafirmação foi feita ontem pelo gerente de Relações com Investidores daestatal, Alexandre Quintão. Segundo ele, se o Congresso não aprovar atéo fim de maio o projeto de lei que prevê a capitalização, a companhiabuscará alternativas. Uma delas é emissão de ações preferenciais (semdireito a voto). Neste caso, porém, o valor seria menor que oatualmente previsto pelo mercado.

- Ela (a capitalização) é extremamente necessária para o Plano deNegócios. Se não tiver isso, vai ter que ajustar de algum lado: ou vocêajusta via capitalização ou via redução de investimentos - disseQuintão, após encontro promovido pela Apimec-RJ, referindo-se ao plano2010-2014, que prevê investimentos entre US$200 bilhões e US$220bilhões no período.

O projeto de lei prevê a capitalização da Petrobras por meio dacessão, pelo governo, de áreas não licitadas do pré-sal com até 5bilhões de barris de petróleo. Segundo Quintão, opções como emissão debônus ou empréstimos do BNDES estão descartadas.

- Qualquer tipo de captação via mercado sem ser mercado de açõesgera um endividamento e estoura o que eu tenho hoje, que é o limite de35% (de alavancagem) - explicou o executivo. - Temos que manter o nívelde alavancagem dentro de um limite aceitável pelas agências de rating(que avaliam riscos de países e empresas).

Carlos Minc convida Ibsen a mergulhar no esgoto

Outro projeto relacionado ao pré-sal - que redistribui os royaltiese recebeu a polêmica emenda do deputado Ibsen Pinheiro (PMDB-RS), queinclui o pós-sal na redivisão - continua a ser alvo de críticas. Oministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, disse que, se a emenda foraprovada, convidará Ibsen para mergulhar no esgoto.

- Essa estação de tratamento foi viabilizada com dinheiro do FundoEstadual de Conservação Ambiental (Fecam). Exatamente o Fecam que estãoquerendo garfar. Até propus ao autor da emenda (Ibsen) que desse ummergulhinho lá no esgoto para ver o que vai acontecer se ele garfar osnossos royalties - disse Minc, que esteve no Recreio ontem, ao lado dogovernador Sérgio Cabral, para a cerimônia de inauguração da estação.

Cabral confirmou que o estado deve entrar com ação na Justiçacontra o projeto, negou que o presidente Lula o tenha criticado eacenou que concorda em abrir mão das participações especiais (PEs)sobre o pré-sal, como previsto no texto original:

- O que o presidente Lula pediu aos senadores é que resgatem oacordo, que é muito razoável, porque prevê, a partir do pré-sal a serlicitado, que o Rio abra mão das PEs. Como haverá compensação em volumede barris (de petróleo), ficam elas por elas.

Em entrevista ao jornal "A Tarde", da Bahia, Lula disse que osroyalties estão desviando o foco das discussões do novo marcoregulatório do pré-sal:

- A proposta enviada por nós ao Congresso não tratava dosroyalties, porque não queríamos que ela contaminasse o debate central.Começaram a brigar pelo pirão antes mesmo de pescar o peixe. (Nãopodemos) deixar que a riqueza do pré-sal seja consumida pelasnecessidades de qualquer prefeito de resolver seus gastos correntes. Ariqueza do pré-sal é enorme, mas não é infinita.