Título: Bolha para gringo ver
Autor: Boas, Bruno Villas; Beck, Martha
Fonte: O Globo, 27/03/2010, Economia, p. 33

Para bancos suíço e americano, ações, real e economia do Brasil estão sobrevalorizados

Dois grandes bancos internacionais afirmaram ontem que há bolhas emformação no Brasil. Para Gerard Cremoux, co-diretor para América Latinado banco de investimentos suíço UBS, a bolha está no mercado de ações,que poderá sofrer uma correção no próximo ano quando as valorizaçõesestourarem. Já o estrategista Ben Laidler, do americano JPMorgan, disseque a economia do Brasil corre o risco de "superaquecer" e que a moedado país, o real, está "supervalorizada". Analistas discordam dasafirmações de bolha na Bolsa e no câmbio, mas concordam que há riscosquanto ao aquecimento da economia, com um ritmo de expansão de 2% aoano. Mas, segundo eles, o governo e o Banco Central (BC) têm mecanismospara impedir um crescimento maior, com a retirada de incentivos fiscaise o aumento da taxa básica de juros, a Selic.

- O BC deixou claro que vai subir juros, a questão está no tamanhodessa alta, se ela será suficiente ou não - diz Roberto Padovani, doWestLB.

Técnicos da área econômica, por sua vez, discordam da ideia de quea economia está superaquecida. Segundo assessores do ministro daFazenda, Guido Mantega, a previsão do governo para o aumento do ProdutoInterno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país)para este ano, de 5,2% - mas que deve ser revista para cima - indica umcrescimento sustentável tanto para 2010 quanto para os próximos anos.Segundo o governo, o PIB potencial em 2010 está em torno de 5% e vaisubir para algo entre 5% e 5,5% nos próximos anos.

Segundo Alexandre Póvoa, da Modal Asset, a relação entre o preçodas ações negociadas na Bolsa de Valores de São Palo (Bovespa) e oslucros das empresas - um indicador do descolamento entre a Bolsa efundamentos econômicos - está dentro da média histórica, em 13 vezes.Nos EUA, essa relação está atualmente em 14 vezes, explica. Na época dabolha de 2002, essa relação chegava a 60.

Cremoux, do UBS, disse, na Universidade de Columbia, em Nova York,que o aumento de empresas lançando ações mostra que o mercado do Brasilestá ficando supercarregado.

- O Brasil parece uma bolha. O mercado espera um bocado deatividade no Brasil este ano. Podemos ver a maior oferta de açõesjamais feita. É para ficar cético.

Acordo sobre Grécia ainda gera dúvidas

Hersz Ferman, da Yield Capital, lembra, porém, que a recenteabertura de capital da OSX, de Eike Batista, captou um terço doplanejado, mesmo após a redução do valor mínimo das ações.

Especialista em câmbio, Nathan Blanche, sócio da consultoriaTendências, diz que o real não está sobrevalorizado. Estudo daconsultoria mostra que o real oscila, desde a adoção do câmbioflutuante, de acordo com as moedas de países que têm base econômicasemelhante à brasileira, como Nova Zelândia, Austrália, Canadá, Chile eÁfrica do Sul. Já Luiz Octávio Leal, do banco ABC Brasil, afirma quenão existe um "câmbio ideal", embora acredite que o real está sim "umpouco valorizado". Integrantes da equipe econômica afirmaram que atendência do câmbio é de estabilidade.

Ontem, a Bovespa subiu 0,35%, aos 68.682 pontos. O dólar comercialteve a terceira alta seguida, com avanço de 0,99%, cotado a R$1,83. Nasemana, a Bovespa acumulou queda de 0,21%. No mês, avança 3,28%.

Já os líderes da zona do euro obtiveram ontem uma reação silenciosados mercados financeiros em relação ao acordo que cria uma rede deproteção para a Grécia, ameaçada por um alto déficit fiscal. Porém, opapel do Fundo Monetário Internacional (FMI), que parecia definido,voltou a gerar dúvidas. A entidade não fez um pronunciamento diretosobre o acordo. O presidente da França, Nicolas Sarkozy, disse que seupaís e a Alemanha concordam que é preciso rever as regras do pacto deestabilidade, ante o cenário econômico atual.

(*) Com Bloomberg