Título: Enfim, o jogo começa
Autor: Roxo, Sérgio
Fonte: O Globo, 20/03/2010, O País, p. 3

Serra admite que será candidato e diz que disputará contra Dilma, e não contra Lula Sergio Roxo

SÃO PAULO

No dia em que completou 68 anos, e se livrou de seu suposto infernoastral, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), falou comocandidato e admitiu publicamente, pela primeira vez, que disputará asucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em entrevista aoapresentador José Luiz Datena, da TV Bandeirantes, o tucano disse quenão teme enfrentar a popularidade do presidente Lula porque ele nãoserá candidato nem vai governar, e que a comparação será, portanto,entre ele e a candidata do PT, a ministra Dilma Rousseff.

O tucano, que vinha resistindo há meses a confirmar que é candidato, disse que o lançamento da candidatura será no mês que vem.

Faltam poucos dias. No começo de abril respondeu.

Sobreo fato de Lula ser forte cabo eleitoral para Dilma, Serra afirmou: Apopulação vai julgar não quem já foi presidente ou quem é, mas quem écandidato. Quem vai governar o Brasil no futuro. E aí vai fazer o seujuízo melhor. Agora, decidi o seguinte: campanha para mim é só quandoela começar.

Eu não me antecipei. Meu trabalho de governador ficou sendo trabalho de governador. Vou fazer isso até o último momento.

Oapresentador perguntou se ele não estaria demorando muito: Não, nãoestou demorando. Tem seis meses depois ainda para fazer campanhaeleitoral. É muito cedo para começar e aí você prejudica o trabalho queestá fazendo, que no meu caso é o trabalho de governador.

Quandoo apresentador concluiu que a estratégia da campanha de Serra entãoserá evitar a comparação com Lula e insistir em fazer isso com Dilma,já que é ela quem vai governar, caso seja eleita, o tucano confirmou: É, e tem uma coisa: quando você é eleito, assim como eu fui prefeito esou governador, quem toma as decisões, inclusive nos momentos difíceis,é o prefeito, o governador e o presidente.

Isso éinsubstituível. Não há delegação nesse caso, e você responde ao povoque te deu o voto. Não há ninguém que governe com alguém paralelamente,nem acho que esse seja o caso, nem o Lula pretenderia fazer isso, masisso não funcionaria no Brasil e em nenhum lugar do mundo.

Semprefalando como candidato, Serra minimizou a influência de Lula em outromomento da entrevista: A população vai escolher em função de como sãoos candidatos, porque o Brasil está decidindo o seu futuro.

Aconteceumuita coisa boa no Brasil, (mas) ainda tem problemas. (O povo vaiescolher) quem é mais capaz de garantir as coisas boas e melhorálas equem é capaz de enfrentar os problemas. Naturalmente, aí pesam asideias, as propostas, e pesa o passado, o que cada um fez. Como é quefoi provado na vida pública, e isso vai ser mostrado, vai ser julgadopelos diferentes candidatos, e o povão vai resolver.

Resolver bem como sempre fez.

Aoser perguntado por que vinha negando a candidatura, disse: Não estounegando. Estou dizendo que, neste momento, enquanto estiver no governo,não vou fazer campanha.

O tucano também comentou o crescimento de Dilma nas pesquisas de intenção de voto.

Ela tem tido uma exposição bastante grande. A campanha eleitoralacelera depois da Copa do Mundo, quando a população começa a fazer umjuízo mais pessoal dos candidatos.

Aí a gente vai ver o que acontece.

Perguntadopor Datena se acha que leva vantagem diante do fato de já ter tidodiversos cargos públicos, Serra evitou comparar: Seria meiopretensioso da minha parte dizer que sou melhor.

Sobre apossibilidade de o governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), ser vice emsua chapa, disse: Essa coisa de vice é para muito mais adiante. Parao fim de maio, junho, ainda tem tempo pela frente.