Título: Uribe impõe condição para acordo com as Farc
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Fonte: O Globo, 30/03/2010, O Mundo, p. 29

Rebeldes soltos não poderiam voltar à luta armada. Libertação do militar refém mais antigo é esperada hoje BOGOTÁ. Deflagrando uma nova onda de otimismo entre os parentes de prisioneiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), o presidente Álvaro Uribe afirmou estar disposto a um acordo humanitário com a guerrilha.

Segundo Uribe, seu governo estaria disposto a trocar guerrilheiros detidos por 22 membros das Forças Armadas colombianas em cativeiro nas selvas do país, com a condição de que os rebeldes soltos não retornem à luta armada.

Hoje, está prevista a libertação de mais um refém: o sargento Pablo Emilio Moncayo, o mais antigo prisioneiro das Farc, sequestrado há 12 anos.

O governo facilitou as libertações, fez resgates e não se opõe ao acordo humanitário desde que não seja para devolver delinquentes às Farc.

A troca de presos não deve fortalecer a capacidade criminosa da guerrilha ou o terrorismo, mas livrar os colombianos do pesadelo das ações terroristas ressaltou Uribe.

Pai de refém volta a defender negociações Desde a manhã de ontem, o país está mobilizado numa operação para garantir o sucesso da libertação do sargento Pablo Emilio Moncayo, hoje com 31 anos de idade. Depois de participar da libertação, no domingo, de outro militar, Josué Daniel Calvo que esteve mais de 11 meses nas mãos das Farc dois helicópteros emprestados pelo Exército brasileiro aguardavam o sinal verde para decolar nesta manhã de Villavicencio para a cidade de Florencia, capital do departamento (estado) de Caquetá. Eles deverão resgatar o refém em algum ponto da selva, no sul do país.

A ação é coordenada pela Cruz Vermelha Internacional e pela senadora oposicionista Piedad Córdoba, que vem mediando a libertação dos reféns junto aos guerrilheiros das Farc. Desde as 18h (20h em Brasília) de ontem, as Forças Armadas da Colômbia suspenderam todas as atividades no país para atender à exigência da guerrilha de estabelecer um protocolo de segurança.

Em Bogotá, ontem era grande a expectativa da família de Moncayo, antes de embarcar no voo que a levaria a Florencia para aguardar a chegada do soldado.

Seu pai, o professor Gustavo Moncayo, ainda traz nos pulsos as correntes que colocou para simbolizar o sequestro do filho: Espero que seja Pablo Emilio quem as tire disse ele ao GLOBO, por telefone.

Ao lado da filha, Tatiana, o professor Moncayo disse que não sabia quais eram as condições de saúde do filho, mas contou que pretende levar Pablo Emilio para o povoado de Sandoná, onde a família mora, para se recuperar do longo cativeiro.

Nos últimos 12 anos, o professor parou de dar aulas e percorreu a Colômbia com correntes nos pulsos, numa campanha para chamar a atenção popular para a situação dos militares e policiais sequestrados, já que somente políticos faziam parte da lista que a guerrilha pretendia negociar com o governo. O professor diz que não sabe como será sua vida a partir de agora, mas garante que pretende continuar lutando pela libertação dos demais reféns, embora veja poucas chances de isso acontecer no atual cenário.

Há um conformismo, com cada lado medindo forças para ver quem é o melhor. É preciso negociar avaliou.

Apesar do progresso, os rebeldes adiaram por tempo indeterminado a entrega do corpo do policial Julián Ernesto Guevara, morto no cativeiro, alegando que operações militares do Exército colombiano estejam impedindo a devolução.

O governo de Bogotá, no entanto, suspeita que as Farc não saibam o paradeiro do corpo.

Apesar do clima otimista, a mediadora Piedad Córdoba reiterou que, para as Farc, a volta de Moncayo é a última libertação unilateral da guerrilha. Os outros 22 militares em cativeiro só serão soltos após negociações para uma troca de presos.

Analistas também se mostram céticos quanto a novas libertações: muitos acreditam que elas só acontecerão após o desfecho das eleições presidenciais, marcadas para maio.