Título: Lula se irrita e cancela visita com Dilma a obras atrasadas
Autor: Gois, Chico de; Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 30/03/2010, O País, p. 10

Presidente reclama do fato de fábricas em Pernambuco, onde iria hoje, não terem ficado prontas no prazo previsto

BRASÍLIA. Num evento no qual foi coadjuvante, embora tenha sido citado todo o tempo, o presidente Lula criticou, durante o lançamento do PAC-2, ontem, o atraso na conclusão de obras, e disse que não está contente com o que foi feito até agora e que há muito mais a ser feito.

Lula mostrou-se irritado com a demora na conclusão de obras.

Hoje ele iria a Salgueiro (PE) para inaugurar uma fábrica de dormentes e outra de brita, cujos materiais seriam utilizados na ferrovia Transnordestina. Mas, por causa de atraso nos serviços, como noticiou o GLOBO, domingo, Lula desistiu. A ministra Dilma Rousseff também iria.

Eu ia amanhã (hoje) para a Transnordestina, inaugurar a fábrica de dormentes, a maior do mundo, e a fábrica de brita. Sozinha, a usina de brita vai produzir mais brita que as 40 que têm em São Paulo. Não vamos porque não está pronta. Esse compromisso foi feito comigo em janeiro. E não está pronta.

Em janeiro, o consórcio responsável pela obra, formado pela CSN e Odebrecht, disse ao presidente que a fábrica estaria pronta para ser inaugurada neste mês. Na sexta-feira passada, a equipe precursora da Presidência foi a Salgueiro e constatou que a fábrica não foi concluída.

Lula disse que as obras não andam não pela falta de verba, mas de projetos.

O que libera dinheiro não é discurso, (...) não é pressão política, (...) não é emenda parlamentar, (...) não é o Estado ser mais rico ou mais pobre. O que libera dinheiro é o cidadão que governa uma cidade ou um estado, um ministro que governa uma pasta trazer um projeto consistente, com cumprimento das exigências legais.

O presidente defendeu o PAC2, dizendo que é uma prateleira de projetos que poderá auxiliar o próximo mandatário, independentemente de quem seja, a tocar as obras com celeridade.

Se não fizermos agora, quem assumir o governo no dia 1° de janeiro do ano que vem vai perder um ano fazendo o que nós estamos fazendo agora.

Presidente cita e elogia Dilma

Num autoelogio, afirmou que ser republicano é uma questão de prática e não de discurso e conclamou os parlamentares a não fazerem loucura neste ano: Queria fazer um apelo aos companheiros congressistas: ano de eleição não é hora de fazer loucura em votação. É hora de a gente pensar na próxima geração. E a gente só vai poder cuidar bem da próxima geração se agir com o máximo de cuidado e de responsabilidade.

E alertou os ministros, que desejam que seus secretáriosexecutivos os substituam: Quem quiser ficar sabe que vai trabalhar o dobro dos que saíram, porque agora, a fiscalização vai ter que ser muito mais rígida, porque a gente não pode se deixar pegar na disputa eleitoral. Ministro não é para cuidar de finanças de campanha de ninguém, é para trabalhar e para cuidar do dinheiro público corretamente disse, concluindo com elogio a Dilma: Não posso ficar chamando você de mãe eterna do PAC-2, porque daqui a pouco surge outra mãe aí, adotiva. E não vou chamá-la de avó do PAC, porque não ajuda. Amanhã, no dia em que a Dilma for sair (...), gostaria de dizer uma coisa para vocês: se não fosse a trinca da Dilma ela, a Erenice (Guerra), a Miriam Belchior e mais a Tereza (Campelo) , se não fosse a dedicação dessas companheiras, talvez a gente não pudesse nem estar lançando isso aqui hoje.