Título: Número de assassinatos cresce 37% no interior
Autor: Farah, Tatiana; Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 31/03/2010, O País, p. 12

Estudo mostra que taxa caiu nas regiões metropolitanas e nas capitais; em dez anos 512 mil brasileiros foram mortos

SÃO PAULO e BRASÍLIA. A violência está migrando dos grandes centrosurbanos para o interior do país, indica a pesquisa Violência 2010 Anatomia dos Homicídios no Brasil, divulgada ontem. Enquanto nasregiões metropolitanas a taxa de homicídios caiu 25% entre 1997 e 2007,e a queda registrada nas capitais é de 19,8%, nos pequenos municípioshouve um crescimento de 37,1% no número de assassinatos. Nesse períodode dez anos, foram mortos 512 mil brasileiros.

Coordenador dapesquisa, o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz afirma que as pequenascidades têm alimentado a chamada espiral da violência, enquantoestados como São Paulo, Rio e Minas forçam os índices para baixo, compolíticas mais adequadas de segurança. No interior, a taxa dehomicídios por 100 mil habitantes aumentou de 13,5 mortes, em 1997,para 18,5, em 2007. No mesmo período, nas capitais esse índice caiu de45,7 para 36,6. Já nas regiões metropolitanas, a queda é maior, de 48,4mortes por 100 mil habitantes para 36,6.

Para Waiselfisz, no entanto, o Brasil não deve comemorar essa redução nos índices.

A violência é uma espiral, que não se encerra em si mesma.

Esses índices ultrapassam países que estiveram em guerra.

Em 2007, foram 47.707 vítimas de homicídios: 130,7 por dia.

Mesmoassim, em 2007, a taxa de homicídios era de 25,2 mortes para cada grupode 100 mil habitantes, a mais baixa dos onze anos no período estudado,embora apenas dois décimos menor do que a de 1997 (25,4). Ou seja, umadécada depois, o país retomou o patamar de 1997.

Uma análise anoa ano mostra que as estatísticas poderiam ser piores. De 1997 a 2003, ataxa de homicídios cresceu na faixa de 5% ao ano, atingindo o pico de28,9 assassinatos para cada 100 mil habitantes em 2003 com 51.054mortos. Depois, o índice caiu em 2004 (27) e 2005 (25,8), voltou asubir em 2006 (26,3) e alcançou seu menor patamar em 2007.

Campanhade desarmamento ajudou a reduzir índices Waiselfisz diz que a queda em2004 e 2005 pode ser atribuída à campanha do desarmamento.

Paraele, o efeito da campanha perdeu fôlego e as estatísticas nacionaispassaram a refletir o êxito ou não de políticas estaduais de segurançapública. A redução das taxas de homicídios em São Paulo e Rio, segundoele, foram decisivas para fazer cair o índice em 2007.

Em 2007, Alagoas era o estado com a mais alta taxa de homicídios do país: 59,6 por 100 mil habitantes.

Emsituação inversa, Santa Catarina tinha o índice mais baixo: 10,4. O Riode Janeiro aparecia em quarto lugar, com taxa de 40,1. Esse resultadorevela queda de 31,7% na comparação com 1997, quando o Rio tinha oíndice mais alto: 58,8.

O Mapa da Violência, produzido peloInstituto Sangari, mostra que nove estados, incluindo o Rio,conseguiram reduzir suas taxas de homicídios no período de 1997 a 2007.A queda mais acentuada foi a de São Paulo, com redução de 58,6%. Em1997, o indicador paulista era de 36,1 assassinatos para cada 100 milhabitantes; em 2007, estava em 15. Ainda assim, os dois estados tiveramo maior número absoluto de vítimas: 6.313 no Rio e 6.234 em São Paulo.