Título: Cerco aos negócios com o Irã
Autor: Martins, Marília
Fonte: O Globo, 31/03/2010, O Mundo, p. 31

EUA pedem respeito do Brasil se ONU aprovar sanções; Petrobras poderia ser retaliada

O porta-voz do Departamento de Estado americano, Philip Crowley,reforçou ontem a disposição dos Estados Unidos de fechar ainda mais ocerco a empresas que tenham negócios diretos no Irã ou mesmo quetenham recebido financiamento de bancos americanos. Aumentando aspressões para garantir que o Conselho de Segurança da ONU aprove umnovo pacote de sanções econômicas contra o governo de Teerã, Crowleyafirmou que o governo Obama quer uma conversa mais ampla sobre aatuação empresarial no Irã.

Segundo Crowley, a Casa Branca estátrabalhando em duas frentes: uma internacional, junto à ONU, e outranacional, com congressistas americanos que debatem uma nova legislaçãopara reforçar as sanções internas americanas a empresas que tenhamnegócios no Irã, sobretudo relacionados à Guarda Revolucionária: Queremos que as sanções sejam efetivas e focadas em instituiçõesenvolvidas com o programa nuclear iraniano, especialmente a GuardaRevolucionária.

Obama: Sanções em semanas

O porta-voz disse ter tomado conhecimento da lista de empresasinvestigadas por congressistas americanos sob suspeita de teremnegócios com o Irã e que, mesmo assim, obtiveram financiamento debancos americanos. Desta lista, segundo o jornal The New York Times,faz parte a Petrobras, que teria recebido um montante de US$ 2,2bilhões do Eximbank dos EUA e que, apesar de manter um escritório emTeerã, nega ter negócios com empresas locais.

Não quero comentar a lista nominalmente.

Oassunto foi tema da visita da secretária Hillary Clinton ao Brasil, como presidente Lula e o ministro (Celso) Amorim. Digo apenas duas coisas:estamos nos movendo para aprovar sanções na ONU e esperamos que oBrasil cumpra a resolução, caso aprovada disse ele ao GLOBO.

Umdos maiores temores dos EUA é que, caso aprovadas as novas restrições,empresas de países como o Brasil possam driblá-las e manter transaçõescomerciais com o país islâmico que apesar de ser grande produtor depetróleo, não tem capacidade de refiná-lo, necessitando importarcombustíveis para alimentar pelo menos 40% de seu consumo próprio.

Obamaquer ampliar as discussões comerciais porque, segundo Crowley,empresários devem fazer suas avaliações de negócios não somente levandoem conta a estabilidade global no caso de uma corrida armamentistanuclear, mas também a reputação de suas empresas.

Por que umaempresa iria querer arriscar a sua reputação fazendo negócios com oIrã? É preciso pensar nisto quando se tem a perspectiva de maisrestrições ao país advertiu o porta-voz.

Segundo o Itamaraty,em momento algum Hillary Clinton mencionou a Petrobras durante suavisita ao Brasil, há cerca de um mês. Na conversa com o ministro dasRelações Exteriores, Celso Amorim, os dois mantiveram suas posiçõescontrárias sobre o Irã e concordaram apenas em ser contra aproliferação de armas nucleares no mundo. Segundo a Petrobras, ocontrato de serviço e exploração com o Irã foi encerrado em 2008.Procurada pelo GLOBO, a estatal afirmou que não comenta assuntos degoverno.

Numa preparação à visita do presidente Lula a Teerã,marcada para maio, o Brasil vai mandar uma grande missão, com mais de90 empresários, a Irã, Egito e Líbano. A delegação será chefiada peloministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, no mês que vem.

Ontem,o presidente dos EUA, Barack Obama, reafirmou a intenção de apressar opasso na aprovação de uma nova rodada de sanções contra o Irã devido àinsistência em levar adiante seu controverso programa nuclear. Emencontro com o presidente francês, Nicolas Sarkozy, na Casa Branca,Obama falou em novas medidas no prazo de algumas semanas.

Napauta do encontro, o conflito no Oriente Médio por conta do anúncio denovos assentamentos na área palestina de Jerusalém, e o apoio francêsàs novas sanções econômicas contra o governo do presidente MahmoudAhmadinejad.

Tenho esperança de conseguir a aprovação de novassanções ao Irã ainda nesta primavera (no Hemisfério Norte). Estouinteressado em aprovar isto num prazo de semanas garantiu Obama,apoiado por Sarkozy.

COLABOROU: Eliane Oliveira, de Brasília