Título: Sou corintiano. Não posso ser ministro?
Autor: Weber, Demétrio; Fabrini, Fábio
Fonte: O Globo, 01/04/2010, O País, p. 12

Novo titular da Agricultura defende nomeações de cartolas para a Conab

BRASÍLIA. A cerimônia de posse do novo ministro da Agricultura, Wagner Rossi, foi ofuscada pela revelação de que, na sua gestão à frente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), nomeou para cargos técnicos, dois presidentes de clubes de futebol do interior de São Paulo e até um dentista, correligionários do PMDB. Rossi os defendeu, negou que não conheçam o setor agrícola, mas não garantiu a permanência deles nos cargos.

O loteamento da Conab, revelado pelo GLOBO, foi assunto de rodas de conversa dos convidados na solenidade.

Técnicos de futebol conhecem o setor agrícola, afirma Rossi Ao comentar a nomeação dos cartolas Ary José Kara, presidente do Taubaté, e de Vergilio Dalla Pria, do Rio Preto, Wagner Rossi disse que os dois são conhecedores do setor agrícola e que não vê problema que acumulem as duas atividades: ¿ Todo mundo sabe que presidente de clube no interior não é uma atividade full time (de tempo integral). Ele é o torcedor número um. Eu sou corintiano. E isso me desqualifica para ser ministro da Agricultura?! Lembrado, porém, que ele não era o presidente do Corinthians, Rossi afirmou: ¿ Que diferença isso faz?! Wagner Rossi disse ainda que os dois dirigentes dos clubes foram convidados por ele e aceitaram assumir os cargos contrariados, pois não desejavam a atividade.

¿ Ambos aceitaram meu convite contrariados. Já estavam aposentados. São pessoas de grande experiência e que vieram com salários muitíssimo menor que sempre tiveram ¿ disse.

O novo ministro afirmou que optou por técnicos na escolha de seus assessores e disse que a reportagem do GLOBO é um falsa denúncia.

¿ As pessoas precisam ter mais cautela e não fazer foguetório em torno do nada. Foi o que aconteceu.

No seu discurso de despedida, o ex-ministro da Agricultura Reinhold Stephanes, que transmitiu o cargo a Rossi, afirmou que enfrentou divergências dentro do governo.

¿ Tive opiniões muitas vezes divergentes de outros setores do próprio governo, mas compreendidas pelo presidente Lula. Mas, por princípio, evito discussões políticas, doutrinárias e ideológicas ¿ disse Stephanes, que listou, entre os temas desse embate, o meio ambiente, o índice de produtividade e os direitos humanos.

Stephanes, que trabalhou pela indicação de seu secretárioexecutivo, José Gerardo Fontelles, evitou demonstrar contrariedade e afirmou que Rossi tem condições de ser um bom ministro da Agricultura.

¿ Desde que me apresentou seu currículo, quando assumiu a Conab, sempre achei que tinha todas as credenciais para ser ministro.

Rossi retribuiu o agrado e previu a reeleição de Stephanes para a Câmara.

¿ Sua saída é lamentada por todos nós. E terá uma volta triunfal, com o apoio do eleitorado do Paraná.