Título: Mário Mesquita deixa Banco Central
Autor: Oswald, Vivian
Fonte: O Globo, 01/04/2010, Economia, p. 23

Saída do último diretor egresso do mercado fecha ciclo de mudanças

BRASÍLIA. Último egresso do mercado no comando do Banco Central (BC), o diretor de Política Econômica da instituição, Mário Mesquita, teve sua saída anunciada ontem e nem mesmo apresentou o último Relatório Trimestral de Inflação pelo qual foi responsável. O desligamento, aguardado há pelo menos seis meses, foi seguido da indicação do atual diretor de Assuntos Internacionais, Carlos Hamilton Vasconcelos, ligado a Mesquita, para substituí-lo. A troca completa o ciclo iniciado em dezembro de 2007, com a intenção de reforçar o caráter técnico e a autonomia operacional do BC.

Engenheiro de formação, mestre e doutor em Economia e há 20 anos ocupando cargos de chefia no BC, Carlos Hamilton tornou-se diretor em janeiro deste ano, em substituição a Maria Celina Arraes.

Na verdade, foi promovido para ser preparado a substituir Mesquita. Espera-se dele ortodoxia e fidelidade à cartilha da meta de inflação. Especula-se que tenha sido um dos três votos a favor da alta dos juros em março, seguindo Mesquita.

A vaga de Carlos Hamilton deve ficar com o economista Luiz Pereira, funcionário de carreira do Banco Mundial. No governo Lula, ele já trabalhou na Fazenda e no Planejamento.

O presidente do BC, Henrique Meirelles, deixou para hoje o anúncio de sua saída ou, se resolver acatar o pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, da sua permanência no cargo até o fim do ano. Se sair, deverá ser substituído pelo diretor de Normas, Alexandre Tombini, também funcionário de carreira.

Mesquita já havia dito a Meirelles que queria voltar à iniciativa privada. Ele considera cumprida sua missão. Mas, nos bastidores, aponta-se que as cobranças públicas ao BC, taxado em alguns círculos dentro e fora do governo de ¿conservador¿, ¿inimigo do crescimento¿ e ¿submisso ao mercado financeiro¿, estariam por trás de sua saída.

Carlos Hamilton, que ainda precisa ser sabatinado e aprovado pelo Senado, disse que a política do BC não muda: ¿ Técnicos vêm e vão. A vida continua do mesmo jeito.

Ex-diretor do BC, Carlos Thadeu de Freitas acredita que o fato de a diretoria ser majoritariamente técnica não significa que vai trabalhar com uma lógica que interesse ao governo. Para ele, a diretoria tem de ¿vestir a camisa de força¿ do modelo de condução da política monetária.

Estrategista-chefe do WestLB, Roberto Padovani considera legítima a preocupação com a troca no BC, pois este não é formalmente autônomo e precisa ¿comprar a sua reputação a cada mudança¿.