Título: BC já prevê inflação de 5,2%, bem além da meta
Autor: Oswald, Vivian
Fonte: O Globo, 01/04/2010, Economia, p. 23

Objetivo, no entanto, é manter o custo de vida em 4,5%. Para analistas, o ciclo de alta dos juros será menor

BRASÍLIA e SÃO PAULO. Diante das insistentes pressões de alta dos preços da economia, o Banco Central (BC) já projeta inflação de 5,2% para este ano, bem acima do centro da meta de 4,5% pelo IPCA. Este é o cenário de referência do BC, com juros constantes a 8,75% ao ano e câmbio a R$ 1,80, de acordo com o primeiro Relatório Trimestral de Inflação de 2010. Ainda assim, neste cenário ¿ sem qualquer correção nos juros ¿ , o IPCA recuaria sozinho a 4,9% em 2011, que tem a mesma meta. O mercado entendeu os números como um sinal de que a Taxa Selic começa a subir em abril, mas a magnitude do ajuste este ano será inferior aos 2,5 pontos percentuais esperados até agora.

O BC estaria muito mais preocupado com 2011 e seria mais condescendente com um IPCA fora da meta em 2010, afirmam ainda os analistas. O relatório de ontem foi o primeiro apresentado pelo indicado para a diretoria de Política Econômica, Carlos Hamilton Vasconcelos, em substituição a Mário Mesquita.

¿ O banco indica que pode aceitar uma acomodação dos preços este ano. Perdida a oportunidade de subir os juros em março, já não faz mais sentido subir muito este ano, já que se pode chegar a 4,9% no ano que vem com os juros onde estão ¿ analisou o ex-diretor do BC Carlos Thadeu de Freitas.

¿ Fica claro que o aumento (do IPCA) de 2010 não será visto com preocupação. O Banco Central não vai tentar trazer o IPCA para 4,5% este ano.

Além disso, confirma que os juros sobem e quantifica o ritmo.

Se o fizer dentro das expectativas, vai conseguir atingir o centro da meta em 2011 ¿ afirma o economista do Santander Mauricio Khedi Molan.

As ameaças da inflação para este ano parecem vir de todos os lados. O BC vê riscos de alta dos preços administrados (tarifas públicas), elevação da cotação das commodities, aumento das importações, crescimento industrial com redução da ociosidade do setor e menos oferta e da própria expansão da economia após a recuperação da crise.

Carlos Hamilton reconheceu que existe um descompasso entre oferta e demanda neste momento que precisa ser acompanhado de perto. Segundo ele, a demanda está ¿bem mais aquecida do que imaginávamos¿.

¿ O BC está fazendo e estará fazendo o que for necessário para manter a inflação na meta. Raramente bate a meta, às vezes está acima, às vezes está abaixo ¿ afirmou ele.

A inflação surpreendeu o BC, que foi obrigado a rever para cima as estimativas que havia traçado em dezembro de 2009 para a variação dos preços da economia ao longo deste ano. O cenário de referência projetava 4,6% para o IPCA este ano, mas foi revisado para os 5,2% anunciados ontem. Segundo Carlos Hamilton, em janeiro, a porcentagem de itens acompanhados que sofreram aumento de preços ficou acima de 60% pelo terceiro mês consecutivo.

¿ Um índice de difusão acima de 60% definitivamente não está na zona de conforto ¿ reconheceu Carlos Hamilton.

Para o economista do Santander, tanto o Relatório de Inflação quanto a Ata do Copom divulgada na semana passada mostram um conteúdo que justificaria a alta dos juros já em março, embora ela não tenha acontecido, para o estranhamento do mercado: ¿ O preço do erro será um ajuste ainda maior dos juros.

O nível de utilização da capacidade instalada da indústria atingiu 84,3% em março, o maior patamar desde 2008, quando ficou em 85,1% na série com ajuste sazonal. Os dados são da sondagem conjuntural da indústria de transformação, divulgada ontem pela FGV. Pelo estudo, a ociosidade ainda é maior do que no período pré-crise, mas caminha para a retomada.

COLABOROU Wagner Gomes