Título: Produção industrial avança 18% em fevereiro
Autor: Alencar, Emanuel; Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 02/04/2010, Economia, p. 25

Alta foi a maior para o mês em 19 anos. Para especialista, patamar pré-crise deve ser alcançado neste trimestre

A produção industrial brasileira registrou a segunda alta consecutiva e cresceu 1,5% em fevereiro ante o mês anterior.

Com isso, já se aproximou do patamar de maio de 2008, na précrise financeira mundial. Numa comparação com fevereiro de 2009, a expansão foi de 18,4%, a maior variação para o mês dos últimos 19 anos. A produção do setor ficou apenas 3,2% abaixo do patamar registrado em setembro de 2008, um mês antes da crise se refletir nos indicadores.

Os números constam da Pesquisa Industrial Mensal (PIM), divulgada ontem pelo IBGE.

O setor de bens de consumo não duráveis foi a única categoria que conseguiu voltar ao patamar pré-crise, com avanço de 1,6% em fevereiro ante setembro de 2008. No entanto, as demais categorias já se aproximam dos níveis de produção daquele período. O segmento de bens de consumo duráveis, por exemplo, teve produção 0,7% inferior a setembro de 2008, enquanto os bens intermediários (insumos para indústria) ficaram 1,3% abaixo. No segmento de bens de capital (máquinas e equipamentos), a produção foi 9,9% menor.

Mercado interno puxou setor, diz IBGE Já é possível, porém, perceber uma recuperação da produção de bens de capital na comparação mensal. O segmento teve expansão de 1,7% em relação a janeiro.

O IBGE também revisou os dados da indústria de janeiro, com o crescimento de 1,2% em relação a dezembro, ante os 1,1% divulgados anteriormente.

Dados de dezembro também foram revisados.

Na avaliação do gerente de análise e estatísticas derivadas IBGE, André Macedo, o resultado foi impulsionado, principalmente, pelo bom momento do mercado interno: ¿ Os dados de fevereiro sinalizam um incremento das atividades industriais alavancadas pelo mercado interno. Em relação a janeiro, podemos destacar a volta do crescimento dos bens de consumo semi e não duráveis e dos bens de capital.

Temos um perfil de crescimento disseminado, atingindo quase todas as atividades.

Macedo ressaltou que os bens de consumo semi e nãoduráveis tiveram o maior índice mensal (aumento de 10,5% em relação ao mesmo mês do ano passado) desde fevereiro de 2000, quando foi registrada alta de 11,4%.

Os números da nova PIM surpreenderam analistas. O economista Felipe França, do Banco ABC Brasil, esperava avanço entre 0,8% e 1% em fevereiro.

¿ O crescimento dos bens de consumo semi e não duráveis (2,4% em relação a janeiro) foi surpreendente. Os bens de capital, que entre abril e novembro de 2009, cresceram 3,3% em média e haviam dado uma estabilizada, voltaram a crescer. O que é ótimo reflexo da volta da confiança do setor ¿ afirmou.

De negativo, Felipe França citou o índice dos bens intermediários, que vinham em recuperação mensal consistente desde dezembro de 2009 e tiveram queda de 0,5% em fevereiro, ante janeiro: ¿ Mas foi uma questão pontual, de queda do refino de petróleo. Não se trata de uma tendência estrutural.

O economista do IBGE André Macedo concordou: ¿ Depois de 13 meses de alta, a queda de 0,5% nos bens intermediários foi natural, uma acomodação após grande ciclo de crescimento.

Bens não duráveis sofreram menos com a crise Sílvio Sales, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), acredita que a indústria vai continuar aumentando a produção nos próximos meses, a ponto de alcançar, ainda neste trimestre, o pico do volume produzido, que foi em setembro de 2008, pouco antes de a crise internacional ter atingido em cheio a indústria brasileira: ¿ A produção de veículos cresceu muito, e as estatísticas do setor em março mostram que ainda continuam em alta.

Isso é importante pelo efeito encadeador da indústria automobilística.

Os bens de capital voltaram a crescer, refletindo a confiança do empresário. A sondagem da indústria mostrou essa confiança no maior nível depois da crise.

Os bens não duráveis, mais voltados para o mercado interno ¿ que impediu uma retração maior da economia no ano passado ¿ já alcançaram o máximo de sua produção em fevereiro.

Segundo Sales, foi o ramo dentro da indústria que sofreu menos com a crise e conseguiu se recuperar mais rapidamente.

Felipe França também crê numa rápida recuperação: ¿ Se mantido (este ritmo), em maio já devemos atingir os patamares do pré-crise. As projeções anteriores eram para o segundo semestre.