Título: Compromisso com as metas de inflação
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Fonte: O Globo, 06/04/2010, Opinião, p. 6

A escolha de Henrique Meirelles para a presidência do Banco Central tranquilizou os mercados financeiros - e os agentes econômicos, em geral - no início do governo Lula. Embora a política monetária do BC tivesse sofrido muitas críticas do PT e de aliados do presidente, o Banco Central não teve a sua autonomia operacional ameaçada nesses sete anos e três meses.

Tal política se mostrou exitosa, pois certamente contribuiu para criar as condições que levaram a economia brasileira a ser promovida a grau de investimento pelas agências de classificação de risco. As iniciativas do BC durante a recente crise financeira internacional também evitaram um contágio que possivelmente teria levado o país a enfrentar processo recessivo ainda mais grave. Nesse sentido, a decisão de Meirelles de permanecer à frente do Banco Central nos meses restantes do governo Lula amortecerá especulações que poderiam agitar os mercados financeiros no período pré-eleitoral.

A eventual saída de Meirelles já vinha se refletindo nas projeções de analistas financeiros para a trajetória das taxas futuras de juros, pois temia-se que uma diretoria com mandato tampão não conseguisse impor suas diretrizes em um momento que a inflação é motivo de alguma preocupação.

Os mercados financeiros costumam ficar mais sensíveis nos meses que antecedem eleições gerais, o que é compreensível, pois incertezas se multiplicam quanto ao futuro. A formação de expectativas negativas, se não neutralizada a tempo, acaba prejudicando a tarefa do Banco Central no controle da inflação.

O último relatório publicado pelo BC indica que um ajuste nas taxas de juros deverá ocorrer para que a inflação seja contida em torno do ponto central da meta definida para este ano (4,5%) - e o mercado já a estima acima de 5%. Na ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) há também sinais sobre esse ajuste. E a permanência de Meirelles e da maioria dos diretores no Banco Central reforça a tese que a política monetária nos próximos meses será a necessária para o cumprimento das metas.

Tanto melhor para a economia brasileira, pois o atual impulso de crescimento somente será sustentável com a inflação sob controle, do mesmo modo que o balanço de pagamentos (finanças externas).

Antes da crise financeira internacional já havia uma certa resistência no Brasil contra a independência institucional do BC. Depois da crise - atribuída, em parte, à pouca eficácia de autoridades monetárias pelo mundo - esse item não deverá constar da agenda política. Mas seria um grande retrocesso se o BC perdesse sua autonomia operacional, ratificada, na prática, pelos bons resultados que foram colhidos desde o lançamento do real.

Seria muito bom que os candidatos à Presidência da República se posicionassem sobre essa questão. O governo Lula, que não parecia inclinado a conviver com um BC autônomo, só se favoreceu ao assegurá-la. Que sirva de exemplo, para o bem da economia brasileira e do país.