Título: Aloprado tinha influência na Funasa
Autor: Pinto, Anselmo Carvalho; Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 09/04/2010, O País, p. 4

Valdebran Padilha interferia na escolha de dirigentes e indicava aliados

CUIABÁ e BRASÍLIA.. O "aloprado" e ex-petista Valdebran Padilha, que voltou a ser preso anteontem, desta vez por fraudes em obras públicas, tinha influência direta na escolha dos dirigentes da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) em Mato Grosso. Em depoimento à Polícia Federal, José Ferreira Lemos Neto, ex-coordenador do órgão no estado, revelou que Padilha e o empreiteiro Evandro Vitório negociaram com deputados do PT e do PMDB a indicação de aliados para o cargo. O trecho do processo em que o depoimento de Lemos Neto é citado, porém, não revela quais deputados e que acordos foram feitos.

Entre os 31 presos anteontem na Operação Hygeia, da Polícia Federal, três são ligadas ao deputado federal Carlos Bezerra (PMDB/MT): Carlos Miranda, tesoureiro do PMDB; Rafael Bastos, secretário-geral do diretório estadual; e José Luís Bezerra, sobrinho do deputado peemedebista.

Ontem, o presidente da Funasa, Faustino Barbosa, decidiu intervir na superintendência da instituição em Mato Grosso. O chefe de gabinete de Barbosa, Moisés Santos, deve assumir hoje o comando da Funasa em Cuiabá, na vaga do superintendente afastado Marco Antônio Stangherlin, um dos presos nos dois primeiros dias da operação. Ele e mais 13 funcionários e ex-funcionários da Funasa estão sendo investigados por suposto envolvimento em desvios de dinheiro da instituição.

Pela Operação Hygeia, a polícia e o Ministério Público Federal investigam direcionamento em licitações e pagamentos por serviços não realizados com verba da Funasa em Mato Grosso. Antes de viajar a Cuiabá, Santos disse que todos os contratos sob suspeita estão suspensos.

Moisés nega, no entanto, que parte do problema tenha como origem indicações políticas para cargos de confiança. O chefe de gabinete sustenta que parte dos inquéritos da PF teve como ponto de partida investigações internas da própria Funasa.

A direção nacional da Funasa informou que não se pronunciaria sobre a acusação porque ainda não teve acesso ao inquérito nem à acusação de Lemos Neto. O órgão anunciou ainda o afastamento de todos os acusados pela Operação Hygeia.

A assessoria do governador do Mato Grosso, Silval Barbosa, disse que Barbosa desconhece o teor da investigação da Operação Hygeia, mas garante que, se alguém usou seu nome em conversas telefônicas, o fez sem a sua autorização.

Em 2006, Valdebran foi flagrado em São Paulo com R$1,7 milhão, negociando a compra de um dossiê falso que supostamente prejudicaria o PSDB. A negociação envolvia membros do PT, a quem o presidente Lula chamou de "aloprados".

*Especial para O GLOBO