Título: Inflação subiu 0,52% em março, pressionada pela alta dos alimentos
Autor: Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 09/04/2010, Economia, p. 28

Em 12 meses, IPCA acumula variação de 5,17%, elevando chance de alta dos juros

RIO, BRASÍLIA e PORTO ALEGRE. A alta nos preços dos alimentos puxou a inflação em março e o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo IBGE e que orienta o sistema de metas do governo, fechou o mês com elevação de 0,52%, acima das expectativas do mercado financeiro, que esperava 0,49%. Com isso, a inflação dos três primeiros meses de 2010 chega a 2,06%, mais que o dobro do que se viu no mesmo período do ano passado (1,23%) e maior número para o período desde 2003 (5,13%). Levando em conta apenas os alimentos, a alta no mês foi de 1,55% e, no ano, 3,69%, mais que em 2009, quando os preços do setor subiram 3,18%.

Apesar de apresentar uma queda em março em relação a fevereiro (0,78%), no acumulado de 12 meses chegou a 5,17% - é a primeira vez, desde maio de 2009, que esse número fica superior a 5%. Aumenta o temor de que a inflação se distancie muito da meta oficial do governo, de 4,5% e cresce a pressão para que o Banco Central eleve mais cedo e com mais intensidade os juros, para reduzir um pouco a atividade financeira e a demanda.

Mas os dados não são conclusivos. O IGP-DI de março, divulgado ontem pela Fundação Getulio Vargas, foi na direção oposta: ficou em 0,63%, abaixo das previsões do mercado, de 0,70%. A maior redução ocorreu nos preços industriais, com deflação de 0,05%, motivada pelo setor sucroalcooleiro. Os preços mais baixos devem chegar em breve ao consumidor, afastando o risco de inflação generalizada e eliminando a necessidade de aperto forte nos juros.

No IPCA, os alimentos se apresentam como maiores vilões do trimestre, mesmo com o impacto do aumento do preço dos combustíveis e do transporte público em janeiro e das mensalidades escolares em fevereiro. No ano, o tomate variou 44,59%, a polpa de açaí está 32,53% mais cara e o açúcar subiu mais de 25%.

- Há uma alta generalizada no setor de alimentos. As principais causas para esta elevação são os problemas climáticos, como o excesso de chuvas e de calor, mas há também a questão do aumento da demanda que já pode estar impactando no IPCA - afirmou a coordenadora de Índice de Preços do IBGE, Eulina dos Santos, que cita outras altas como leite (13,18% no ano).

Sem alimentos, o IPCA de seria de apenas 0,22%

Rafael Bacciotti, economista da Tendências Consultoria, acredita que esta alta de inflação não é uma tendência. Ele acredita que o índice fechará o ano em 4,5%, no centro da meta e bem abaixo da atual expectativa do mercado, que, segundo pesquisa mensal do Banco Central, espera uma inflação para 2010 de 5,18%:

- Os preços dos alimentos estão fortemente influenciados pela situação climática. Excluindo o setor do cálculo, o IPCA de março seria de apenas 0,22%.

O professor Antônio Corrêa de Lacerda, da PUC-SP, acredita que é cedo para elevar os juros. Ele acredita que não há inflação de demanda, mas sim problemas específicos, em alguns produtos e infraestrutura. Para ele, a alta dos juros inibiria investimentos, fundamentais para o aumento da oferta e consequente redução de preços:

- O Banco Central já errou de diagnóstico outras vezes, como no início da crise, quando demorou a reduzir os juros. Os juros no Brasil já são altos, o momento é de ter um plano de expansão de demanda.

Mas economistas do setor financeiro dão como certo o aumento da Taxa Selic e, inclusive, pedem uma intensificação deste movimento. É o caso de do economista-chefe do banco ABC Brasil, Luis Otavio de Souza Leal. Ele afirmou, em nota, que deve haver uma desaceleração da inflação em abril, porém em patamar menor que o esperado.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva atribuiu o aumento da inflação à sazonalidade:

- Neste período do ano, aumenta transporte, material escolar, mensalidade escolar. Tivemos excesso de chuva e, por isso, alguns produtos alimentícios estão puxando a inflação para cima, mas não precisamos ficar nervosos neste momento, precisamos esperar o segundo trimestre para saber qual é a linha correta da inflação.

Fazenda: inflação menor nos próximos meses

A inflação projetada para os próximos 12 meses deve ficar "muito próxima" do centro da meta, de 4,5%, prevê o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Ele sustentou que há "um choque de oferta" por causa das chuvas no país desde o começo do ano:

- A inflação está sob controle e deve estar mais baixa nos próximos meses.

O ministro apresentou as projeções para o IPCA em 2010 - de 0,4% em abril, 0,3% mensalmente entre maio e outubro, e 0,4% para novembro e dezembro, acrescentando que "o mercado sempre exagera um pouco".

COLABORARAM: Luiza Damé e Isabel Marchezan, especial para O GLOBO