Título: Obama fala a linguagem de bombas e balas
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Fonte: O Globo, 09/04/2010, O Mundo, p. 33

GUERRA FRIA REDIRECIONADA: Ahmadinejad diz que Irã não vai implorar para escapar de ser atingido por punições

Teerã reage com ameaça e diz que tropas dos EUA no Oriente Médio seriam alvo. China participa de reunião sobre sanções

TEERÃ. O Irã reagiu com desafio e ameaças a uma possível aliança dos Estados Unidos com a Rússia para aprovar novas sanções. Elevando o tom, o general Hassan Firouzabadi, comandante militar iraniano, prometeu atingir forças americanas no Oriente Médio se o país for atacado e sugeriu que o petróleo poderia ser um alvo de retaliação. O presidente Mahmoud Ahmadinejad, por sua vez, afirmou que o Irã não vai implorar para evitar as sanções e que Barack Obama fala a linguagem de "bombas e balas".

Firouzabadi não explicou quais tropas seriam alvo, mas os EUA têm soldados no Iraque e no Afeganistão, países que fazem fronteira com o Irã.

- Se os Estados Unidos apresentarem uma séria ameaça e adotarem qualquer medida contra o Irã, nenhum soldado americano que esteja atualmente na região voltará para casa vivo - disse o general Firouzabadi.

Segundo o general, um ataque ao Irã colocaria em risco também as reservas de petróleo.

- Se os EUA querem o petróleo da região e seu mercado, então o mercado da região deveria ser tirado da América e o controle muçulmano sobre o petróleo aumentaria - acrescentou.

Netanyahu cancela participação em cúpula

Foi um dia de forte retórica. Ahmadinejad, que na véspera chamara o presidente Barack Obama de "caubói nuclear", declarou que o Irã tentaria transformar as sanções em oportunidades, em vez de mudar seu comportamento para evitá-las.

- Não recebemos bem a ideia de ameaças ou sanções, mas nunca iríamos implorar àqueles que nos ameaçam com sanções para revertê-las - disse Ahmadinejad, que afirma que o programa iraniano é pacífico.

Ele falava em Teerã enquanto, em Praga, o presidente Barack Obama assinava com Dmitry Medvedev o Novo Tratado para Redução de Armas Estratégicas e anunciava que os dois países trabalhariam juntos para aprovar as sanções.

- Obama fala a linguagem de bombas e balas. Eles mataram mais de 300 mil pessoas em Afeganistão e Iraque - acusou Ahmadinejad.

Obama espera persuadir a China - que, assim como a Rússia, tem poder de veto no Conselho de Segurança da ONU e tradicionalmente se opõe a sanções ao Irã -, a aprovar novas restrições. Os Estados Unidos esperam chegar a um acordo nas próximas semanas.

- As negociações começaram previamente nas capitais e de fato aqui - disse a embaixadora dos EUA na ONU, Susan Rice, na sede da organização. - Estamos trabalhando para fazer isso de forma rápida.

A embaixadora se reuniu com representantes de Reino Unido, França, Rússia e China - os outros quatro membros permanentes do Conselho de Segurança - além dos da Alemanha, para começar a esboçar uma resolução. Uma vez pronto, o texto seria apresentado para votação aos 15 membros do Conselho.

Uma proposta americana acertada com aliados europeus e entregue à Rússia e à China há um mês será a base das discussões. O texto tem como alvo a Guarda Revolucionária, embarcações e empresas, e deixaria de fora o setor petroleiro e de gás iranianos. A reunião foi descrita pelo novo embaixador chinês, Li Baodong, como "negociações muito importantes".

Paralelamente, os EUA sediam na próxima semana um encontro sobre segurança nuclear. A reunião, que deveria contar com 47 países, já teve uma baixa: o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. O premier cancelou a viagem a Washington após saber que o Egito e a Turquia pretendiam levantar a questão do arsenal nuclear israelense. Especialistas acreditam que Israel tenha um arsenal secreto considerável - o que o país não confirma nem nega. Egito e Turquia querem pressionar Israel a assinar o Tratado de Não Proliferação Nuclear.