Título: Líderes propõem cesta de divisas
Autor: Fleck, Isabel
Fonte: Correio Braziliense, 17/06/2009, Mundo, p. 19

Cientes do poder de barganha que seus países têm juntos, os chefes de Estado do Bric grupo de países emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia e China pediram, no texto final de sua primeira cúpula, um sistema de divisas mais diversificado e a reformulação das instituições financeiras internacionais. A ideia é ajustar o cenário econômico à realidade atual, incluindo cada vez mais os países emergentes nas discussões. Entretanto, o documento final de Ekaterimburgo (Rússia) não menciona o futuro papel do dólar nas transações comerciais entre os quatro países nem alternativas de moedas de referência. Diante da intenção de formalizar o grupo, uma nova cúpula foi marcada para 2010, no Brasil.

Durante quatro horas, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil), Hu Jintao (China) e Dimitri Medvedev (Rússia), e o primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh, discutiram sobre a necessidade de uma revisão em instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (BM), e de uma reforma no sistema financeiro internacional como um todo. ¿Acreditamos que é bastante necessário ter um sistema de divisas estável, previsível e mais diversificado¿, destaca o texto final do encontro. Eles debateram sobre a melhor forma de levar essas reivindicações à próxima cúpula do G-8 (grupo que reúne os sete países mais industrializados do mundo e a Rússia).

Para o coordenador do Grupo de Estudos Ásia-Pacífico da PUC de São Paulo, Henrique Altemani, a reivindicação dos Brics é importante e pode, sim, render frutos para os países emergentes, já que esse é um ¿bom momento¿. ¿Eles (Brasil, Rússia, Índia e China) têm a capacidade de influenciar o processo decisório, mas não de tomar as decisões¿, observa Altemani. ¿E eles estão buscando modificações dentro das organizações existentes. A ideia não é contestar as instituições, mas adequá-las, promovendo reformas dentro de suas regras¿, explica.

Paulo Vizentini, coordenador do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), concorda que os quatro países são hoje os mais fortes interlocutores dentre os emergentes para exigir essas reformas. ¿Nenhum deles quer ir contra o sistema, mas às vezes é preciso fazer um coro para ser ouvido. O que os Brics querem é reformular a instituição, mudar um pouco o seu foco¿, destaca Vizentini. O especialista acredita que este é o momento de o Brasil investir em diálogos com países de peso, como a China. ¿É uma oportunidade que não acontece toda hora¿, afirma.

Interesses Altemani acha que o governo brasileiro deve aproveitar essa aproximação com os outros integrantes do Bric. ¿O Brasil tem um déficit de poder muito grande e, isolado, tem pouca capacidade para reivindicar mudanças¿, ressalta. No entanto, ele lembra que não é só o país que tem a ganhar com essa interação. ¿A China está inegavelmente anos-luz à frente do Brasil, mas tem dificuldade de expor seus pontos de vista no cenário internacional ¿ no que o Brasil pode ajudar.¿

Após o encontro, que descreveu como ¿histórico¿, o anfitrião Medvedev disse que os países decidiram fazer encontros periódicos entre os presidentes dos bancos centrais e os ministros das Finanças, de Energia e Agricultura dos Brics a fim de organizar estratégias comuns. No espírito de criar uma ¿ordem mundial mais justa¿, Brasil, Índia, Rússia e China pedem o fim dos subsídios agrícolas que prejudicam as exportações dos emergentes e recursos para a adaptação tecnológica das nações em desenvolvimento.