Título: A pequena Vitória do Xingu terá sua população multiplicada por cinco
Autor: Paul, Gustavo
Fonte: O Globo, 11/04/2010, Economia, p. 29
Cidade receberá barragens e casas de força. Dono de mercado buscará novo local
VITÓRIA DO XINGU (PA). A cidade que vai hospedar todo o empreendimento de Belo Monte, com as três barragens e as casas de força que vão gerar 6,4% da energia do país, não tem ambulância, rede de água e esgoto, hospital e hotel. Vitória do Xingu, distante 50 quilômetros de Altamira, tem dez mil habitantes apenas. Com a obra, vai receber 18,6 mil trabalhadores diretos e outros 30 mil indiretos.
A população do município será multiplicada por cinco.
Essa perspectiva preocupa e ao mesmo tempo fascina os moradores.
O prefeito Liberalino Ribeiro de Almeida Neto (PTB), de 34 anos, teme as consequências da invasão em suas ruas.
Hoje não temos condições de receber esse pessoal. Não queremos repetir o que aconteceu em Tucuruí, que criou uma cidade de luxo e outra cidade de lixo afirma, referindo-se à vila dos engenheiros, que recebeu toda a infraestrutura e depois foi abandonada, e a vila dos operários, que se transformou em um pardieiro.
Vitória, como é conhecida, teme violência, prostituição e outras mazelas que fizeram a fama, por exemplo, de Serra Pelada.
Pelo projeto, serão construídas 2,5 mil casas para funcionários e suas famílias na cidade. Outra parcela de trabalhadores ficará em outros dois alojamentos mais distantes. Para atender a essa população, estudos estimam aumento na procura por serviços e chegada de pessoas em busca de oportunidades.
Prefeito diz que é preciso até comprar ambulâncias A prefeitura já fez os cálculos de quanto irá ganhar com isso. Quando a obra estiver em seu auge, em 2013, o município terá um salto na arrecadação: a receita de ISS da obra chegará a R$ 2 milhões ao mês. A receita hoje é de R$ 360 mil, basicamente de repasses do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) e do ICMS do Pará.
Todo esse dinheiro, diz o prefeito, terá de ser gasto para alçar Vitória à categoria de cidade.
Segundo ele, será preciso investir em saneamento, água, escolas, postos de saúde e até em compra de ambulâncias: Nosso município é carente de tudo.
O dono da Drogaria Harou, Anivair Azevedo de Souza, teme o surgimento da violência na cidade e lembra que a maior parte da renda da localidade vem da prefeitura. Já o escrevente do cartório local, Eduardo Reis, sonha com mais movimento: Aqui vai ter mais trabalho e a economia vai crescer. O trabalho no cartório vai crescer.
Vitória vai ficar mais animada.
Mas o município terá de administrar o remanejamento de uma parcela de seus habitantes.
Dezenas de quilômetros ao sul da sede, na margem da Transamazônica, as 60 famílias da Vila de Santo Antônio terão de ser removidas, por estarem ao lado de onde será construída a casa de força principal de Belo Monte.
O comerciante Amadeu Fiok, de 73 anos, terá de arrumar um novo local para seu mercado, os 11 filhos e os 14 netos que moram ao seu lado. Pioneiro da Transamazônica, ele adverte que não se contentará com qualquer indenização do governo: Eles falam em indenização, mas ainda não disseram de quanto.
Tem de ser algo bom. Não saio com as mãos vazias. (Gustavo Paul, enviado especial