Título: Na trincheira doméstica contra o autoritarismo
Autor: Costa, Mariana Timóteo da
Fonte: O Globo, 11/04/2010, O Mundo, p. 35

CARACAS. A vida da advogada Eveling Trejo de Rosales 38 anos declarados, mas eu tenho mais, confessa mudou de forma radical há exatamente um ano, quando seu marido, Manuel Rosales, deixou a Venezuela e pediu asilo político no Peru. Rosales, considerado o principal nome da oposição venezuelana, governou por duas vezes o rico estado de Zulia, que produz 80% do petróleo do país.

Foi derrotado por Hugo Chávez nas eleições presidenciais de 2006 e , em 2008, foi eleito pela segunda vez prefeito de Maracaibo, capital do estado.

Mas, em abril de 2009, depois de uma obscura acusação de corrupção já que não houve nenhuma in vestigação realizada sobre o caso preferiu abandonar o país.

Meu marido é um exilado político. Desde então, minha vida é na ponteaérea. Sempre que posso vou a Lima visitá-lo. Foi muito estranho, depois de 24 anos de casada, não mais dormir diariamente ao lado dele. Estávamos sempre juntos, éramos muito unidos conta Eveling, mãe de 10 filhos com Rosales, com idades que vão dos 4 aos 29 anos.

Quatro deles, os mais jovens, eu pari. Os outros são de uma outra união dele. Mas todos são meus filhos, já que criei todo mundo. Temos três netos, que hoje estão crescendo longe do avô.

A que mais sente falta do pai é a pequena Alejandra, de apenas 4 anos. A mãe conta que, toda vez que volta de Lima, a criança chora e fica doente durante dias. O embarque no aeroporto também é estressante porque a família é muito revistada.

Os guardas olham até que livros levo para o Manuel.

No início, eu brigava, reclamava, agora tento ser gentil. A gente vai se acostumando a lidar com as adversidades, assim é a vida mesmo de clara Eveling, que se viu, de forma repentina chefe de uma família imensa.

Muito católica, ela trabalha em organizações que ajudam crianças carentes em Maracaibo, e diz ter muita fé e nunca perder a esperança.

Somos humildes e pacientes.

Nunca vamos baixar a cabeça para essas atrocidades cometidas pelo governo. Manuel tem sorte de não estar preso diz sua mulher, contando que o marido presta consultoria para políticos peruanos, além de estar escrevendo muito.

Para ela, a primeira coisa que uma nova Assembleia Nacional (que sem dúvida será maioria de oposição a Chávez depois das eleições de 26 de setembro) deve fazer é aprovar uma lei para anistiar os mais de 30 presos políticos que existem no país atualmente.

Até mais do que uma lei de anistia, os deputados precisam aprovar uma lei de reconciliação nacional.

Nunca vi o meu país assim, com tanta gente sofrendo por causa de um governo tirânico.

(M.T.C.)