Título: Ahmadinejad: Obama é um amador
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Fonte: O Globo, 08/04/2010, O Mundo, p. 35

Presidente do Irã reage com ironia à nova política nuclear americana

TEERÃ. Desdenhando da nova política nuclear dos Estados Unidos ¿ que reduz seu arsenal e impede o uso de armas atômicas contra os países não detentores desse tipo de armamento, exceto Irã e Coreia do Norte ¿ o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, fez ontem um ataque pessoal ao presidente Barack Obama. Procurando desqualificar o líder americano, Ahmadinejad advertiu: caso Obama mantenha a política conservadora do ex-presidente George W. Bush, receberá uma resposta "contundente". ¿ Obama fez esses comentários porque é um político amador e inexperiente ¿ disse Ahmadinejad, referindo-se ao anúncio dos novos padrões americanos para o uso de armas nucleares. ¿ Senhor Obama, o senhor é um recém-chegado. Espere secar o suor e acumular um pouco de experiência. Tome o cuidado de não apenas ler qualquer papel que põem à sua frente ou repetir qualquer declaração indicada. Políticos americanos são comparados a caubóis O governo de Teerã convocou para os próximos dias 17 e 18 sua própria conferência sobre desarmamento nuclear. Apesar de não estar claro quem serão os participantes da reunião, fontes diplomáticas afirmam que a China ¿ que ainda reluta em aderir aos apelos americanos e europeus por novas sanções contra o Irã ¿ deve enviar um representante. ¿ Os políticos materialistas americanos, quando são derrotados pela lógica, recorrem imediatamente a suas armas como os caubóis ¿ declarou Ahmadinejad, garantindo que o país não vai se deixar pressionar pela ameaça de sanções. Aproveitando os ataques verbais do presidente, o ministro das Relações Exteriores do Irã, Manouchehr Mottaki, advertiu que a campanha americana para a aprovação de um novo pacote de restrições contra seu país mancha a imagem do Conselho de Segurança da ONU e mina sua credibilidade. ¿ Esperamos que o conselho aja de maneira lógica. Penalizar um Estado por um crime que não cometeu apenas para satisfazer grandes potências vai minar a credibilidade da instituição ¿ sentenciou. As declarações aumentaram ainda mais as expectativas pelo encontro de Obama com o presidente russo, Dmitry Medvedev, hoje, em Praga, na República Tcheca. Os dois líderes assinam o chamado Start, um histórico tratado que reduz as ogivas nucleares de cada lado para 1.550 ¿ um terço menos do que as 2.200 permitidas hoje pelo Tratado de Não Proliferação de Armas (TPN). Analistas ressaltam que a assinatura do acordo prova as atuais boas relações entre Washington e Moscou ¿ o que, arriscam, pode ser um fator decisivo para convencer os russos, ainda hesitantes, a apoiar as sanções econômicas ao Irã. A expectativa pelas negociações também chegou a Brasília. Em meio ao mal-estar causado pela divergência sobre as medidas contra o Irã, na semana que vem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficará frente a frente com Obama em Washington, num encontro paralelo à reunião de cúpula sobre segurança nuclear. Lula deve pedir que o americano e o bloco defensor das sanções esperem pelo resultado de sua visita a Teerã, prevista para o dia 14 de maio. Segundos fontes do governo, Lula reafirmará que o Brasil não tem qualquer posição fechada em relação ao Irã e defende que sejam esgotadas todas as possibilidades de diálogo. Lula tem pela frente o desafio de derrubar a imagem de "ingênuo" propagada pela diplomacia internacional. COLABOROU: Eliane Oliveira, de Brasília AHMADINEJAD, em visita à cidade de Orumieh: demonstração de força e mensagem direta a Obama