Título: É mascarar a impunidade
Autor: Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 08/04/2010, O País, p. 4

Para dom Dimas, adiamento compromete imagem do Congresso

A resistência dos deputados federais, que acabou adiando a votação do projeto Ficha Limpa, compromete a imagem do Congresso, disse o secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, dom Dimas Lara, um dos líderes do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE):

- Tecnicamente ainda existe possibilidade, mas o calendário está muito apertado. Estamos profundamente decepcionados com a resistência de partidos. É preocupante para a imagem do Congresso que, quando se luta pela ética, se encontre tanta resistência.

Para os deputados favoráveis ao projeto, os governistas não querem votar a proposta para não se expor perante a opinião pública.

- Ninguém quer botar a cara para bater. Vai ser uma enrolação para não votar, porque, se colocarmos em plenário, todos terão que mostrar a cara - afirmou o vice-líder do PSDB, Vanderley Macris (SP).

- O projeto chegou em setembro, tivemos 40 dias para discuti-lo no grupo e agora argumentam que é preciso mais tempo?! O risco é ir para CCJ e ser desidratado, se tornar inútil - disse o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ).

Para o juiz Marlon Reis, integrante do MCCE, mais modificações ao texto podem descaracterizar a ideia do projeto.

- Dizer que veta só para os que têm condenações em segunda instância, para quem tem foro privilegiado, é manobra para manter as coisas como estão. É mascarar a impunidade.

Réu no processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal , o deputado José Genoino (PT-SP) foi um dos poucos a criticar o projeto ontem no debate no plenário:

- Essa é uma lei casuística, fere o devido processo legal. É o Judiciário quem vai escolher quem será candidato, que vai tutelar o processo político. Quem tem que tutelar é o povo, é o cidadão, na urna secreta.