Título: Alencar fica, e Sarney não assume
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 10/04/2010, O País, p. 4

Com desistência do vice de disputar eleição, ex-presidente não volta ao Planalto

BRASÍLIA. O vice-presidente da República, José Alencar, anunciou ontem que desistiu de disputar qualquer cargo eletivo este ano. Ele argumentou que ainda está em tratamento para se curar de um câncer e que, por isso, não seria honesto ser candidato. O vice era cotado para disputar uma vaga de senador por Minas Gerais. Com a decisão, Alencar assumirá interinamente a Presidência entre domingo e quarta-feira, durante a viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Washington onde participará de reunião sobre segurança nuclear.

Para não ficar inelegível e manter intacta a possibilidade de disputar um cargo este ano, Alencar chegou a programar uma viagem para o Uruguai nesse período. Ontem, ele avisou que havia adiado a viagem.

A decisão do vice foi recebida com alívio pelo Palácio do Planalto e muitos de seus aliados, que temiam algum desgaste para o governo com a interinidade do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), na Presidência da República o que aconteceria se Alencar não fosse assumir, já que Sarney é o terceiro na linha sucessória. O segundo, o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), não pode assumir o cargo de Lula para não ficar inelegível em outubro.

Decidi não me candidatar a nada. Vou cumprir o meu mandato até o último dia. Subi a rampa junto com Lula e vou descer junto com ele. Só aceitaria examinar uma candidatura se eu estivesse curado. Eu me sinto curado, pois estou bem. Mas continuo fazendo quimioterapia.

Não seria honesto ser candidato fazendo quimioterapia justificou o vice-presidente.

Alencar comunicou ao presidente sua decisão na noite de quinta-feira. Lula gostou da notícia.

Antes da decisão, o próprio presidente já tinha sugerido ao vice de forma reservada que essa seria a melhor decisão.

Perguntado, Alencar negou que sua decisão tenha sido motivada pela possibilidade de Sarney assumir o comando do país.