Título: Prefeito de Niterói diz que não sabia dos riscos
Autor:
Fonte: O Globo, 10/04/2010, Rio, p. 19
Jorge Roberto Silveira esteve à frente da prefeitura em três gestões e foi avisado dos perigos por estudos de especialistas
Depois de pelo menos duas décadas de favelização da área do antigo lixão no Morro do Bumba, sem que nada fosse feito, e após um dia de exaustivas buscas a vítimas do maior soterramento do município, o prefeito de Niterói, Jorge Roberto da Silveira, disse que desconhecia os riscos do local e, por isso, não tinha providenciado a remoção dos moradores. No entanto, ele fora avisado dos perigos através de estudos de especialistas da UFF (leia na página anterior).
A gente sabia que aquele lixão estava desativado há 30 anos. Sabia, quando assumi a primeira vez, que tinha um início de ocupação e era uma região muito pobre. As informações que eu tinha era de que se tratava de um aterro antigo, que já não apresentava risco nenhum afirmou o prefeito, anteontem à noite, em entrevista ao Jornal da Globo.
Para o prefeito, as pessoas que criticam o fato de as remoções da área de risco não terem sido feitas, o que evitaria a tragédia, não conhecem o Brasil: Agora estão falando que tinha que ter removido. Quem fala isso não conhece o Brasil real afirmou, acrescentando que a opinião pública, agora, busca culpados. Eu sei que as pessoas têm a necessidade de encontrar culpados. Paciência.
O prefeito tem que ter a responsabilidade mesmo.
De acordo com informações da prefeitura de Niterói, entre 2004 e 2008, a cidade teve um crescimento surpreendente no número de favelas, com o surgimento de 30 novas comunidades, totalizando hoje 130. No Censo de 2000, IBGE listava 43.
Ao longo dos anos em que a favela do Morro do Bumba cresceu sobre o antigo lixão, a prefeitura de Niterói esteve nas mãos do partido do atual prefeito, o PDT, com um intervalo de sete anos do PT, com o qual fazia dobradinha. De 1989 até hoje, foram cinco gestões, uma incompleta. A primeira do próprio Jorge Roberto até 93.
Depois a de João Sampaio, de 93 a 97. Em seguida, Jorge Roberto volta para dois mandatos de 1997 a 2001 e de 2001 a 2002, quando saiu para concorrer ao governo estadual, entregando o cargo ao vice, Godofredo Pinto do PT, que ainda foi prefeito de 2005 a 2008. Este ano, Jorge Roberto assumiu outra vez a prefeitura.
Governo Brizola afrouxou combate às invasões A política de tolerância do PDT com as ocupações irregulares remonta à época de Leonel Brizola, no Rio, cuja fase mais populista, no primeiro mandato, teve duas marcas relacionadas a políticas voltadas para favelas. Na área de segurança, a tônica era a polícia não sobe o morro. Na urbanística, o governo afrouxou o combate às invasões. Um dos programas do período era o Cada família um lote, que visava legalizar a posse de 400 mil imóveis.
Em nota, o advogado Nilo Batista que foi vice de Brizola disse que se o Lula e o Sérgio Cabral tivessem aplicado em detecção de riscos e contenção de encostas o dinheiro que gastaram para matar pobres no Rio, talvez pudessem ter evitado a tragédia do Bumba.
Brizola levou água, luz, saneamento e urbanização para centenas de assentamentos e favelas, e fez muito bem.