Título: Tucano contra tucano na CPI da Petrobras
Autor: Brito, Ricardo
Fonte: Correio Braziliense, 11/06/2009, Política, p. 4

Arthur Virgílio e Álvaro Dias protagonizam discussão pública e expõem dificuldades oposicionistas na comissão, adiada mais uma vez. Álvaro Dias e Arthur Virgílio: senadores tucanos brigam sobre a ocupação da vaga de relator da Comissão Parlamentar das ONGs Não bastassem as dificuldades para instalar a CPI da Petrobras, senadores de oposição têm brigado sobre a tática adotada para deslanchar a investigação. Os tucanos Arthur Virgílio (AM), líder da bancada no Senado, e Álvaro Dias (PR), autor do pedido de criação da CPI, protagonizaram ontem a primeira discussão pública da guerra que os dois vinham travando nos bastidores. O que está em jogo é a decisão de se devolver para a base aliada o cargo de relator da CPI das ONGs, nas mãos de Arthur Virgílio há duas semanas. Os senadores da base aliada condicionam a abertura da CPI da Petrobras à entrega do posto.

Numa manobra pessoal, o presidente da CPI das ONGs, Heráclito Fortes (DEM-PI), colocou Arthur Virgílio na relatoria da comissão que dirige há dois anos sem grandes avanços. Dessa forma, pretendia revitalizar essa comissão e, por tabela, pressionar o governo a ceder a presidência da CPI da Petrobras. A manobra, porém, mostrou-se de alcance curto. Diante do que consideraram um ¿golpe¿, a base aliada boicotou, anteontem, a sessão da CPI das ONGs e, ontem, a da CPI da Petrobras, marcada para escolher o presidente e o relator dos trabalhos. Sem a presença de pelo menos seis senadores, a sessão de qualquer CPI do Senado não ocorre.

Heráclito Fortes foi o primeiro oposicionista a cogitar do recuo como uma saída para encerrar o impasse. Mas, ao Correio, se esquivou, jogando a decisão para o líder tucano. Após a frustrada reunião da CPI da Petrobras, Álvaro Dias foi direto ao ponto. ¿O mais importante é que não tenha pretexto para serem utilizados (pela base aliada)¿, respondeu Álvaro, quando questionado sobre a possibilidade de devolver o cargo da CPI das ONGs para desatar o nó da comissão da Petrobras.

Álvaro Dias tem revelado a aliados seu desconforto com o impasse na CPI da Petrobras. Senador mais exposto em todo o processo, quebrou resistências e pediu, ao longo de dois meses, apoio de senadores do partido e do DEM à comissão. Mas, depois de três adiamentos sucessivos, corre o risco de a investigação naufragar. Segundo relatou a aliados, Álvaro Dias acredita que a saída de Arthur pode embalar a CPI da Petrobras.

¿Ninguém tem que sinalizar ou dar sinalização de nada¿, atacou o líder tucano, pouco depois, numa clara resposta a Álvaro Dias. ¿Ninguém tem projeto pessoal aqui¿, completou Virgílio, que reforçou a disposição em não deixar a relatoria da CPI das ONGs. Minutos antes, os dois tucanos sentaram-se lado a lado na sessão da CPI da Petrobras. Segundo Álvaro Dias, Arthur Virgílio havia se mostrado disposto a deixar o posto. O líder tucano, que cobrou ¿disciplina¿ do partido, disse que a estratégia para a CPI da Petrobras será decidida na reunião da bancada, na próxima semana. No fim da tarde, Álvaro Dias dirigiu-se no plenário do Senado ao líder do partido para desfazer um ¿mal entendido¿. Disse-lhe que a ¿ideia¿ de substituir a relatoria da CPI das ONGs era do presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE). Mas o mal-estar entre os dois não foi desfeito.

De concreto, a briga na oposição deu um pretexto para que a base aliada adiasse, pela segunda semana seguida, o início da CPI da Petrobras.

Recuo no blog A Petrobras não vai mais publicar, em seu blog, as perguntas enviadas pelos veículos de comunicação que buscam respostas para reportagem sobre a estatal. A prática vinha ocorrendo desde a semana passada, quando a companhia criou o blog Fatos e Dados. A decisão ocorre a pedido do presidente Lula e do ministro da Secretaria de Comunicação Social, Franklin Martins