Título: O PAC e a manipulação eleitoral
Autor:
Fonte: O Globo, 28/03/2010, O País, p. 6
Lançado em 2007, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) veiocumprir a estratégica missão de reativar o investimento público. Oprimeiro governo Lula passara uma fase difícil de retomada daestabilização econômica abalada pelo temor dos mercados diante daperspectiva do PT no Planalto , conseguida graças à operação técnicado Ministério da Fazenda (política fiscal) e do Banco Central (políticamonetária/juros) contra o ressurgimento de fortes pressõesinflacionárias, decorrentes da disparada do dólar, indicador dadesconfiança dos agentes econômicos diante do futuro.
Obtido osegundo mandato por Lula, seria consequência natural, e desejável, aexpansão dos investimentos públicos mesmo se o tucano Alckmin houvessevencido, a estratégia teria sido a mesma. Favorecido por uma conjunturamundial pouco vista, com grandes economias em expansão sincronizada,turbinada pela retomada da China de um espaço que tivera no planeta hámuitos séculos atrás, o Brasil desarmara o gatilho do estrangulamentonas contas externas e se preparava para crescer de forma sustentada.
Esbarraria,no entanto como continua a esbarrar , em gargalos de infraestrutura:estradas, portos e ferrovias insuficientes para transportar umaprodução crescente, parte substancial do chamado custo Brasil. Ebasicamente devido aos anêmicos investimentos públicos.
O PACviria desobstruir estes gargalos. Mas como, desde o início, o programapadeceu de alta intoxicação eleitoral e política, além de ter setornado mais uma vítima da proverbial incompetência administrativa dopoder público, agravada no governo Lula, o cenário dos investimentospúblicos continua preocupante apesar de toda a propaganda em torno doPAC.
Amanhã, com um colorido eleitoral ainda mais vibrante, poróbvias razões, será lançada a segunda versão do PAC. A torcida é paraque desta vez funcione.
Afinal, se considerarmos apenas osinvestimentos da União, eles atingiram no ano passado esquálido 0,6% doPIB, dois anos depois de lançado o primeiro PAC. Medida de comparação:em 1975, no governo Geisel, eles foram de 1,9% do PIB. Explique-se arazão de investimentos tão baixos: desde FH, o Executivo federalprefere os gastos em custeio folha de servidores, assistencialismo,previdência etc , mais fáceis de executar e geradores de dividendoseleitorais imediatos. De janeiro a agosto do ano passado, por exemplo,a folha do funcionalismo inchou 19,3% sobre o mesmo período de 2008,enquanto os investimentos cresceram apenas 9%.
Roga-se, também,que haja maior cuidado com o acompanhamento do PAC e a própriaapresentação dos números. Não têm sido poucas as vezes em que o governoé flagrado em maquiagens estatísticas: crédito imobiliário é convertidoem investimento público, mesmo concedido por instituições privadas, eassim por diante.
As realizações, ou não, do programa estarão nocentro da campanha eleitoral. E têm mesmo de estar. Seja qual for osucessor de Lula, o importante será conseguir dar eficiência àaplicação do dinheiro público mobilizado pelo programa. Apressá-lo,ampliá-lo, sem deixar de atrair capitais privados, imprescindíveisdiante da incapacidade de o Estado, mesmo que deseje, fazer tudo. Se amanipulação eleitoral é inexorável, que se volte à realidade em 1° dejaneiro de 2011.