Título: Será que essa tortura nunca vai acabar?
Autor: Lima, Ludmilla de
Fonte: O Globo, 13/04/2010, O País, p. 10

Atores farão a pergunta em campanha da OAB pela abertura de arquivos da ditadura

Será que essa tortura nunca vai acabar? é a pergunta que Sônia de Moraes Angel, interpretada pela atriz Fernanda Montenegro, fará na TV e em cinemas a partir de sextafeira.

Sônia, economista e professora, foi torturada e assassinada durante o regime militar, e seu corpo nunca pôde ser velado pela família. Assim como Sônia, outros militantes mortos e desaparecidos serão revividos por nomes da dramaturgia em pequenos filmes, de 30 segundos, da Campanha pela Memória e pela Verdade, da Ordem dos Advogados do Brasil do Rio (OAB-RJ).

A proposta é pressionar pela abertura dos arquivos da ditadura. Nos filmes, dirigidos por Chico Abreia, os atores se apresentam como desaparecidos políticos e lançam, ao final, a questão.

A anistia não significa que os mortos não devam ser enterrados e que não devam ser esclarecidos os lugares onde esses corpos estão disse Fernanda Montenegro ontem, depois da gravação.

Osmar Prado interpreta o comunista Maurício Grabois, desaparecido na Guerrilha do Araguaia.

A democracia não está consolidada, porque existe uma ferida que não cicatriza afirma Prado.

Participam ainda Eliane Giardini, como a professora Ana Rosa Kucinski; Mauro Mendonça, como o líder estudantil Fernando Santa Cruz; Glória Pires, como a professora Eleni Guariba; e José Mayer, como o comunista David Capistrano.

A verdade deve prevalecer sempre.

Sou contra qualquer censura. E essas informações são fundamentais para os familiares.

Falta um pedaço da história dessas pessoas ressalta Mayer.

A campanha será oficialmente lançada na sexta-feira, às 10h, em um ato na sede da OAB do Rio, no Centro. O presidente da entidade, Wadih Damous, diz querer o reconhecimento público de que a ditadura não é uma página virada da História: Temos cidadãos brasileiros que desapareceram como se nunca tivessem existido.

Amanhã, o Supremo Tribunal Federal vai julgar ação proposta pela OAB sobre a amplitude da Lei de Anistia de 1979. A entidade sustenta que crimes de tortura cometidos no regime militar não teriam sido anistiados pela legislação, permitindo que ainda hoje os responsáveis pelas agressões sejam processados e punidos. A OAB defende que outros crimes cometidos por agentes do Estado também não sejam protegidos pela Anistia: homicídio, abuso de autoridade, desaparecimento forçado e atentado violento ao pudor. O relator do caso é o ministro Eros Grau.