Título: Abril Vermelho começa com 20 invasões do MST
Autor: Lins, Letícia; Barbosa, Antunes
Fonte: O Globo, 13/04/2010, O País, p. 10

Na quinta-feira, Comissão Pastoral da Terra lança relatório "Conflitos no Campo do Brasil"

RECIFE e SÃO PAULO. Quinze propriedades entre engenhos de cana-de-açúcar e fazendas de gado foram invadidas por integrantes do MST nas últimas 48 horas em Pernambuco. Já são quatro a mais do que o total registrado em todo o Abril Vermelho do ano passado, quando ocorreram onze ocupações no estado, durante a chamada Jornada Nacional de Lutas pela Reforma Agrária. A mobilização é tradicionalmente deflagrada este mês, como forma de assinalar a memória dos 19 lavradores que morreram em conflito com a Polícia Militar no Pará em abril de 1996, no chamado Massacre de Eldorado dos Carajás.

As ocupações mobilizaram 2.080 famílias. Ao todo, foram 15 ocupações em Pernambuco, três na Paraíba e duas em Alagoas. Nas 20 invasões, não houve conflito entre sem-terra e polícia. Durante esta semana, segundo a direção nacional do MST, novas ações serão deflagradas em vários estados, intensificando-se até sábado, Dia Nacional de Luta pela Reforma Agrária.

Este ano, o lema da jornada é Lutar não é crime, em referência ao processo orquestrado por vários setores conser vadores da sociedade que, segundo os sem-terra, tentam criminalizar os movimentos sociais.

Na quinta-feira, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) lançará em São Paulo, em evento fora do Abril Vermelho, a 25aedição do relatório Conflitos no Campo do Brasil, publicação anual que reúne dados sobre conflitos, violências sofridas e ações dos trabalhadores rurais em todo o país. O relatório será apresentado pelo presidente da CPT, dom Ladislau Biernaski, e pelo bispo Enemésio Lazzares.

Quando essa publicação completa 25 anos, a CPT entende ser momento de refletir sobre esses dados e o que representam no cenário rural brasileiro. O fato de esse relatório ainda ser necessário para denúncia prova que o momento não é de comemoração.

Mostra, sim, os poucos avanços na defesa dos direitos humanos no Brasil e na realização da reforma agrária. Este será um momento de reflexão disse dom Ladislau.