Título: Arruda é solto pelo STJ depois de 2 meses preso
Autor: Carvalho, jailton de; Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 13/04/2010, O País, p. 12

Por oito votos a cinco, tribunal revoga prisão preventiva do ex-governador acusado de comandar mensalão do DEM

BRASÍLIA. Após passar 60 dias preso, o ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda (ex-DEM), acusado de chefiar o esquema de pagamento de propina a parlamentares e aliados políticos, foi solto ontem.

Por 8 votos a 5, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) revogou a prisão preventiva de Arruda. O relator do inquérito que investiga o chamado mensalão do DEM, ministro Fernando Gonçalves, argumentou que não há mais como Arruda influir na elaboração de provas, por não ser mais governador; e frisou que todos os depoimentos foram colhidos, restando só investigações adicionais a serem feitas.

Não mais subsiste a necessidade de prisão. Não há mais como o preso influir na instrução criminal porque não mais sustenta a condição de governador de estado. As diligências restantes são todas de caráter objetivo, documental justificou Gonçalves.

Influência pode continuar, diz Pargendler A prisão preventiva de Arruda foi decretada pelo STJ em 11 de fevereiro, sob o argumento de que ele e outros cinco envolvidos tentavam obstruir as investigações do esquema. Arruda foi acusado de suposto envolvimento numa tentativa de subornar o jornalista Edmilson Edson dos Santos, o Sombra, testemunha do inquérito.

Ontem, outros sete ministros votaram a favor da revogação da prisão. Cinco votaram contra, por entender que Arruda ainda pode influenciar a investigação criminal. O ministro Ari Pargendler destacou que o fato de Arruda não ser mais governador não dá garantias de que ele não possa influenciar em informações a serem prestadas pelo GDF, onde ainda há pessoas nomeadas por ele.

Parece-me que ele continua influente até que a denúncia seja ou não oferecida disse Pargendler.

O julgamento da revogação da prisão durou pouco mais de duas horas. O STJ expediu o alvará de soltura, e Arruda deixou a Superintendência da Polícia Federal às 17h20m. O ex-governador estava muito abatido, com barba grisalha que cultivou na prisão. Ele deixou o local no banco de trás de uma caminhonete Hillux, com os vidros escuros, ao lado da mulher, Flávia.

Arruda foi para sua residência, uma mansão no Park Way, bairro nobre de Brasília.

Na saída, grupos pró e contra Arruda se manifestaram. O grupo pró-Arruda, de cerca de 40 pessoas, fez um cordão de isolamento para garantir a passagem da caminhonete. Os contrários a ele, em número menor, gritaram palavras de ordem: Arruda na Papuda (prisão de Brasília para presos comuns). Depois que a caminhonete saiu, os dois grupos se insultaram. Os aliados de Arruda chegaram a agredir, com pontapés, dois estudantes de Jornalismo da Universidade Brasília (UnB), que estavam registrando o acontecimento.

Amigo de Arruda, o ex-secretário do GDF e deputado Alberto Fraga (DEM-DF) disse que o ex-governador deixará a vida pública. O grupo pró-Arruda foi ontem à noite à mansão do ex-governador.

Fizemos uma oração. Ele está muito abatido disse um dos manifestantes, que não quis se identificar.

Outras cinco pessoas são beneficiadas com decisão A decisão se estende também a outras cinco pessoas, também presas acusadas de obstruir a instrução criminal: o suplente de deputado distrital Geraldo Naves (DEM); Wellington Moraes (ex-secretário de Comunicação do GDF); Rodrigo Diniz Arantes (secretário particular de Arruda); Antonio Bento Silva (conselheiro do Metrô) e Haroaldo Brasil de Carvalho (ex-diretor da Companhia de Eletricidade de Brasília).

A sessão de ontem foi a última de Fernando Gonçalves, que completará 70 anos dia 28 e se aposentará. O advogado de Arruda, Nélio Machado, comemorou a decisão de soltura e disse que agora irá trabalhar para provar a inocência dele: Vamos demonstrar que a acusação é vazia, oca. A vida pública, neste momento, interessa muito menos. Ele quer o retorno da sua paz, da sua saúde, que perdeu no cárcere. Vai respirar, rever a família e cuidar de reorganizar a sua existência. Prefere o sossego para enfrentar com segurança e tranquilidade, com confiança na Justiça, as acusações que possam surgir além das apresentadas.