Título: Pedófilo diz que vozes o mandaram matar
Autor: Souza, Isonilda de; Fabrini, Fábio
Fonte: O Globo, 13/04/2010, O País, p. 12
Pedreiro, beneficiado por regime aberto, afirma que estuprava os jovens após receber "ordens"
GOIÂNIA e LUZIÂNIA (GO). Depois de quase três horas de depoimento na Secretaria de Segurança Pública de Goiás, em Goiânia, o pedreiro Adimar de Jesus alegou ter tido relações sexuais e assassinado seis adolescentes na cidade de Luziânia porque ouvia vozes. Ele estava solto desde dezembro, quando recebeu liberdade condicional e saiu do Presídio da Papuda, onde cumpria pena de dez anos por ter abusado sexualmente de dois meninos, de 11 e 13 anos.
Sem demonstrar emoção, disse que recebia dessas vozes ordens para estuprar os jovens: As vozes me mandavam transar com os garotos.
Com frieza, Adimar afirmou que, após obrigar os adolescentes a manter relações sexuais, sentia raiva e, por isso, os matava com pauladas e golpes de enxada.
Pedreiro apresentou várias versões contraditórias Antes de admitir o crime, que já havia confessado à Polícia Civil de Goiás, o pedreiro deu versões contraditórias sobre os assassinatos.
Primeiro, afirmou que só havia tido relações com dois dos garotos. Também chegou a dizer que recebia dinheiro para matar os adolescentes e que estaria cobrando deles uma dívida de drogas. Ao final, revelou que atraía os jovens com a oferta de drogas e promessas de faria um vídeo deles fazendo sexo.
As declarações foram acompanhadas pela CPI da Pedofilia, em andamento no Senado.
A versão apresentada ao fim do depoimento, no entanto, parece ser, na opinião do relator da CPI, senador Demóstenes Torres (DEM-GO), a que mais faz sentido. Todos os corpos foram encontrados nus, enterrados próximos uns dos outros.
A primeira vítima de Adimar foi um garoto de 13 anos, morto uma semana após o pedreiro ter sido liberado da prisão pelos mesmos crimes que voltou a cometer. Em seu depoimento, disse que foi conhecendo os garotos aos poucos, a partir das vítimas que ia fazendo.
É um assassino em série, frio e calculista descreveu o presidente da CPI, senador Magno Malta (PR-ES).
Pai de Márcio Luiz Souza Lopes, de 19 anos, que desapareceu em 22 de janeiro, o vigilante José Luiz da Silva Lopes, de 50 anos, recorda-se de Adimar circulando pelo bairro. Ele contou que, há pouco mais de 10 dias, chegou a conversar com ele sobre o sumiço dos jovens num bar. José Luiz vestia camiseta com a fotografia de um dos adolescentes mortos, o que, na sua versão, pode ter despertado o interesse do assassino.
Eu o conhecia de vista.
Pedi para descer uma pinguinha no bar, ele apareceu, também pediu a sua e perguntou: Tem notícias dos meninos? Respondi que não contou o vigilante, que se surpreendeu, no fim de semana, ao ver o rosto do criminoso: É um sujeito muito frio.
Revoltado, o pai do jovem disse que não entende as circunstâncias da libertação de Adimar. Reunidos ontem, familiares das cinco vítimas decidiram que vão processar o Estado, sob o argumento de que o criminoso fora preso justamente por pedofilia, e não teve qualquer acompanhamento após sair da prisão.