Título: Cameron, de Avatar, protesta contra Belo Monte
Autor: Tavares, Mônica; Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 13/04/2010, Economia, p. 23

Manifestação que pede cancelamento do leilão da hidrelétrica reúne atores de Hollywood, indígenas e ribeirinhos

BRASÍLIA e SÃO PAULO. O Movimento dos Atingidos por Barragens, o Movimento Xingu Vivo para Sempre e outras 53 organizações fizeram uma grande manifestação em Brasília ontem, reunindo cerca de 700 pessoas, entre indígenas, ribeirinhos e moradores da Altamira (PA), contra a construção da hidrelétrica de Belo Monte. O movimento foi reforçado pela presença do cineasta James Cameron, diretor de Avatar, acompanhado da mulher e atriz Suzy Amis Cameron e dos atores Sigourney Weaver e David Moore. Também participou o ator Victor Fasano.

Precisamos ser respeitados na nossa luta. Falar de Belo Monte me dá um espírito de revolta. Estamos como uma mãe defendendo seu filho disse a índia Sheila Juruna. O presidente Lula é o grande vilão desta história.

Indígenas acusam o presidente de não manter o compromisso de diálogo com populações ribeirinhas.

Segundo Sheila, há nove comunidades de índios na região. Cerca de 50 compareceram ontem ao protesto. Os manifestantes protocolaram no Ministério de Minas e Energia o Manifesto das organizações contra Belo Monte e o atual modelo energético.

Queremos o cancelamento da Licença Prévia; o cancelamento do leilão anunciado para 20 de abril. A construção de Belo Monte não é necessária pois não vem atender aos interesses reais do povo brasileiro, diz o documento, também entregue na Aneel.

Outras organizações que assinam o documento são o Conselho Indigenista Missionário (Cimi); o Movimento de Mulheres Trabalhadoras de Altamira Campo e Cidade; Fundação Tocaia; Greenpeace Brasil; e International Rivers, dos EUA.

Cameron, durante discurso, contou que já esteve em Altamira cidade pólo da região em que será erguida Belo Monte e na Volta Grande do Xingu: Quero chamar a atenção do povo brasileiro e da comunidade internacional para o problema deste empreendimento.

Para Fasano, a luta de Belo Monte é uma luta maior, sobre as florestas. Quanto à usina, considera que é um projeto ilegal, que fere a Constituição. Esta é a argumentação dos procuradores federais que protocolaram ações da Justiça do Pará pedindo a suspensão da licença prévia da obra e da licitação.

A atriz Sigourney Weaver, que representou uma cientista no filme Avatar, disse que desenvolvimento não pode ser crescimento a qualquer custo: A energia não pode ser destrutiva. É importante ver que esta discussão está ocorrendo no mundo inteiro.

O governo tem assegurada a participação de pelo menos dois consórcios no leilão de Belo Monte, segundo uma fonte do Planalto. A intenção é manter o leilão no dia 20, a não ser que algo de excepcional aconteça até essa data. O prazo para inscrição dos consórcios que começa hoje se encerra amanhã.

Está confirmada a participação do grupo liderado pela construtora Andrade Gutierrez, que tem a Neoenergia, a Vale e o Votorantim. A Previ, sócia da Neoenergia e da Vale, reforça indiretamente o cacife do grupo.

Consórcio quer empresa consumidora como sócia O segundo grupo dado como certo seria a associação liderada pela empreiteira Queiroz Galvão e o Grupo Bertin. Investidores russos estariam interessados. A Funcef, fundo de pensão dos funcionários da Caixa, poderia migrar para este consórcio. Todas estas empresas se inscreveram para parceiras do Grupo Eletrobras.

A desistência da Odebrecht e da Camargo Correa não é considerada um problema para a realização do leilão.

O consórcio de Queiroz Galvão e Bertin corre para atrair grandes empresas consumidoras como sócias, na condição de autoprodutores. A participação dos autoprodutores é essencial, pois o edital estabelece que o consórcio que não tiver pelo menos 10% da energia contratada com autoprodutores associados, terá de comercializar 90% da sua energia no mercado cativo, com a tarifa mais baixa. A situação inviabiliza financeiramente o empreendimento. Na mira do consórcio, estariam empresas como a CSN.