Título: Brasil faz empréstimo ao FMI
Autor: Simãi, Edna
Fonte: Correio Braziliense, 11/06/2009, Economia, p. 17

País comprará bônus ainda sem data de emissão ou rentabilidade definidas. Ajuda brasileira virá das reservas internacionais e soma US$ 10 bilhões. Fundo cita ¿liderança¿ e ¿compromisso¿ do governo

Para Guido Mantega, empréstimo ao fundo demonstra que economia brasileira está sólida Pela primeira vez na história, o Brasil vai emprestar US$ 10 bilhões ao Fundo Monetário Internacional (FMI) para socorrer países emergentes com dificuldades de financiamento devido à eclosão da crise econômica mundial. Os recursos serão retirados das reservas internacionais, que até o dia 9 totalizaram US$ 205,315 bilhões. A ajuda brasileira poderá chegar a US$ 14,5 bilhões. Isso porque, em abril, o país integrou o seleto grupo de credores do FMI e assumiu o compromisso de liberar até US$ 4,5 bilhões. Para analistas de mercado, o empréstimo apenas fortalece a imagem do Brasil no cenário internacional.

O agradecimento do FMI foi imediato. O diretor-gerente do fundo, Dominique Strauss-Kahn, saudou a ¿liderança¿ e o ¿compromisso¿ do governo brasileiro. ¿O Brasil reafirma mais uma vez a firmeza de seu papel como destacada economia emergente¿, afirmou Strauss-Kahn, por meio de comunicado. ¿As autoridades brasileiras mostraram grande capacidade de liderança em seu compromisso com o processo de reforma do FMI e a expansão de nossos recursos, e me dá satisfação o fato de o Brasil mostrar claramente seu forte apoio ao sistema econômico e financeiro internacional¿, complementou o diretor-gerente.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, explicou que o empréstimo será efetuado pela aquisição de bônus. Ainda não está decidido quando esses papéis serão emitidos e qual será a rentabilidade. Mas, na avaliação do ministro, a rentabilidade não deverá ser elevada pois dificultaria o pagamento pelas nações atingidas pela crise. ¿Na verdade é uma aplicação financeira que o Brasil está fazendo com uma parte de suas reservas¿, disse Mantega. ¿No passado, era o contrário. O fundo é que socorria o país, que era menos sólido¿, disse o ministro da Fazenda.

Bônus Um ponto importante é que, mesmo liberando o recurso para o FMI, o dinheiro continuará na contabilidade das reservas internacionais. ¿Nós teremos esse título de direito especial de saque, que corresponde a um bônus. Se quisermos, poderemos até utilizar, transacionar com o próprio fundo¿, justificou Mantega. O ministro ressaltou ainda que o país conta hoje com reservas internacionais elevadas e que já aplica em papéis, por exemplo, do Tesouro americano. ¿Vamos retirar parte dessas aplicações e fazer outras¿, afirmou o ministro, acrescentando que a administração das reservas internacionais é de responsabilidade do Banco Central.

Para Mantega, a injeção de recursos no FMI poderá agilizar a retomada do comércio externo. ¿Hoje, em função da crise, alguns países estão deixando de importar e de participar do comércio internacional, diminuindo os investimentos. Assim, a intervenção do FMI viabilizará uma retomada mais rápida das trocas mundiais de produtos. Isso ajudará países em desenvolvimento e os mais sólidos como o Brasil¿, completou Guido Mantega.

O ministro da Fazenda disse também que o FMI deve ter uma injeção de recursos de US$ 750 bilhões, sendo que parte da captação será feita com a emissão de direitos especiais de saque. ¿Mas não é nenhuma ação para enfraquecer o dólar. Para nós, não é interessante porque valoriza o real. Quando ocorre valorização do real, o câmbio atrapalha as exportações¿, frisou Mantega. Para o economista-chefe da RC Consultores, Marcel Pereira, a contribuição brasileira ao FMI é pequena, mas fortalece a imagem do país no cenário internacional. ¿O Brasil tem muita gordura para queimar¿, comentou Pereira.