Título: A China terá participação cada vez maior na infraestrutura brasileira
Autor: Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 14/04/2010, Economia, p. 23
A China precisa de muito pouco tempo para dizer a que vem. Em fevereiro, praticamente do zero, o país apareceu em terceiro na lista de maiores investidores estrangeiros no setor produtivo brasileiro, com o aporte de US$ 354 milhões. Ontem, na suntuosidade do dourado ofuscante da sala de sua chancelaria em Brasília, foram necessários apenas 30 minutos para que o embaixador da China, Qiu Xiaoq, avisasse que este é só o começo e que o know-how asiático em infraestrutura será o motor dos investimentos chineses no Brasil da Copa, das Olimpíadas e do trem-bala. A disposição estará clara nas agendas dos 150 empresários chineses que acompanham a visita, esta semana, do presidente Hu Jintao, que participa da reunião de cúpula dos Brics (o grupo de emergentes que reúne Brasil, Rússia, Índia e China).
Vivian Oswald
BRASÍLIA
O GLOBO: Como o senhor classificaria as relações entre a China e o Brasil? QIU XIAOQ: Se desenvolveram muito rápido nos últimos anos. Encontros políticos de alto nível foram frequentes. Os presidentes Hu Jintao e Lula discutiram muitas questões internacionais.
Na economia, foram firmados convênios. O Banco de Desenvolvimento da China (China Development Bank) ofereceu uma linha de crédito de US$ 10 bilhões para a Petrobras. Houve muitos acordos concretos de cooperação.
A visita bilateral do presidente Hu Jintao e a missão de empresários trarão mais investimentos ao Brasil? QIU: A China vai ter uma participação cada vez maior na construção da infraestrutura brasileira. O país vai ter um período de crescimento rápido, com a Copa e as Olimpíadas, e vai chegar a um novo auge de investimentos. A China tem uma capacidade muito importante neste setor (infraestrutura) e tem muito interesse em participar dos investimentos maciços no país. Um exemplo é o trem-bala. A China tem grande experiência neste aspecto. Esta visita renderá bons frutos.
Em que áreas, além da infraestrutura? QIU: Nos campos econômico, comercial e de investimentos, são muitas. O que falta é explorálas e as empresas chinesas estão com grande disposição.
Quais são as oportunidades para as empresas brasileiras? QIU: Elas têm interesse crescente em investir na China. Nosso país superou depressa a crise, crescendo 8,7% em 2009. Esperamos que cresça 9% este ano. Um grupo muito grande de 150 empresários vai participar de um seminário no Rio e todos vão trocar informações.
Quais as expectativas da China para o segundo encontro presidencial dos Brics? QIU: O grupo Bric é uma plataforma muito importante de cooperação para os países emergentes.
Brasil, Rússia, Índia e China foram responsáveis por 50% do crescimento mundial nos últimos 10 anos. Esses países detêm 15% do PIB global. Os quatro têm papel importante no G-20, nas Nações Unidas e em Copenhagen.
A China vai insistir na defesa do uso de moedas locais no comércio exterior? QIU: A crise financeira de 2008 demonstrou que depender de uma só moeda conversível é perigoso. É muito importante diversificar. Depois da crise, a China fez acordos comerciais com vizinhos para negociar com moedas locais.
Queremos um sistema financeiro mais justo, racional e equilibrado.
Os EUA têm cobrado uma taxa de câmbio orientada pelo mercado para o yuan. O país mudará o câmbio? QIU: A China sempre aplica uma política monetária estável, com base em uma cesta de moedas concreta. O país tomará as suas decisões de acordo com critérios soberanos, segundo os interesses econômicos do país. Não vamos aceitar pressões de outros países.