Título: China volta a defender negociações com Irã
Autor: Eichenberg, Fernando; Martins, Marília
Fonte: O Globo, 14/04/2010, O Mundo, p. 29

Obama assegura que país, importante parceiro comercial de Teerã, não seria afetado economicamente com sanções PEQUIM. Horas depois de um encontro entre os presidentes dos Estados Unidos, Barack Obama, e da China, Hu Jintao, o Ministério do Exterior chinês voltou a defender as negociações com o Irã, declarando que qualquer ação do Conselho de Segurança da ONU deve promover uma saída diplomática para o impasse sobre o programa nuclear do país. A afirmação veio depois de funcionários do governo americano anunciarem que Hu concordara em ajudar a estabelecer novas sanções pressionando o Irã.

O comentário da porta-voz da Chancelaria chinesa, Jiang Yu, sugere que a China aceitaria a adoção de novas medidas pela ONU, mas que deseja espaço para negociar as ações.

¿ Acreditamos que as ações do Conselho de Segurança devem contribuir para aliviar a situação e promover uma solução apropriada à questão nuclear iraniana através do diálogo e da negociação ¿ disse Jiang, em Pequim.

Brasil não acredita em apoio do governo chinês a sanções Obama, no entanto, garantiu que os chineses estão comprometidos em aprovar punições ao Irã. O presidente fez um balanço de sua conversa com Hu Jintao e admitiu a preocupação dos chineses com seu suprimento de petróleo, já que o Irã supre 11% das necessidades energéticas da China. Além disso, a China mantém um comércio de US$ 30 bilhões por ano com o Irã.

¿ O presidente Hu enviou uma delegação para negociar um texto ao Conselho de Segurança, e nós nos mostramos sensíveis às necessidades energéticas chinesas. Asseguramos que os chineses não serão negativamente atingidos ¿ disse Obama.

O Irã, por sua vez, disse não acreditar que a China apoie as sanções. A Chancelaria acrescentou que países que imponham sanções ao quinto maior exportador de petróleo do mundo também seriam afetados economicamente.

Há descrédito, inclusive, em relação à Rússia, outro grande parceiro comercial.

O governo brasileiro também está convencido de que a China dificilmente concordará com punições econômicas duras. Os chineses lideram a lista de parceiros comerciais, seguidos da Alemanha e do Japão, e são os principais compradores do petróleo iraniano. Por outro lado, é grande a dependência do Irã de importações agrícolas.

Com apenas de 10% de seu território cultiváveis, os iranianos compram 50% do açúcar e do arroz consumidos, 80% da soja e do milho e 10% das carnes de frango e bovina. São considerados um excelente mercado pelos chineses.

Segundo um alto funcionário do governo brasileiro, a tendência é que, se houver alguma restrição, esta se dará em nível administrativo, como a proibição do livre trânsito de funcionários e cidadãos iranianos em outros países. Quanto à proposta de expulsão do Irã das Nações Unidas, defendida por Israel, essa fonte comentou: ¿ Aí mesmo é que não passa. Mesmo porque Israel não está cumprindo resoluções da ONU quanto à ocupação dos territórios palestinos.

No Irã, a imprensa deu com destaque a declaração do porta-voz da delegação chinesa, Ma Zhaoxu. Ele disse que, no encontro com Obama, Hu defendeu o diálogo e a negociação.

Já a chanceler federal alemã, Angela Merkel, se disse satisfeita com ¿os progressos¿ e ¿os sinais promissores de que Rússia e China continuarão nas discussões¿. Ela se referia à reunião da secretária de Estado americana, Hillary Clinton, com representantes dos membros permanentes do Conselho de Segurança, mais a Alemanha, para discutir a questão iraniana.