Título: Brasil e Turquia pressionam EUA a dialogarem com Teerã
Autor: Eichenberg, Fernando; Martins, Marília
Fonte: O Globo, 14/04/2010, O Mundo, p. 29

Apesar de encontro triplo, porta-voz do Departamento de Estado garante que sanções são certas WASHINGTON. Nem mesmo os intensos debates sobre a ameaça do terror nuclear conseguiram afastar a questão iraniana dos holofotes da cúpula de Washington. Nos bastidores, Brasil e Turquia tentaram convencer os Estados Unidos para que se mantenha a aposta numa solução negociada à crise causada pelo desenvolvimento do programa nuclear de Teerã. No início da tarde de ontem, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Barack Obama, e o premier turco, RecepTayyip Erdogan, se reuniram por 15 minutos para tratar exclusivamente do tema.

¿ A essência da conversa foi: ¿Nós acreditamos que ainda há a possibilidade de uma solução negociada. Vamos dar uma chance a essa possibilidade¿ ¿ resumiu o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.

Segundo o chanceler brasileiro, Obama lembrou os esforços de diálogos feitos até agora, mas não teria se oposto a que Brasil e Turquia insistam na solução diplomática: ¿ Ele não usou a expressão ¿as portas estão abertas¿, mas foi algo nesse sentido.

O relato contradiz a declaração do porta-voz do Departamento de Estado americano, Philip Crowley, segundo a qual o debate agora já não é mais sobre adotar ou não sanções ao Irã, mas sim que tipo de sanções. Na entrevista coletiva após o encerramento da cúpula, o próprio Obama reafirmou a necessidade de medidas mais duras e defendeu as sanções como elemento das negociações para que o Irã obedeça às normas nucleares internacionais.

Segundo Amorim, os três líderes não abordaram detalhes técnicos, mas Brasil e Turquia planejam aperfeiçoar a proposta feita ao Irã pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), em setembro passado. A posição hesitante da China sobre as novas restrições também preocupa o chanceler brasileiro: ¿ Na visita oficial que o presidente Hu Jintao fará em breve ao Brasil, certamente trataremos do tema. Em vez de saber pela imprensa ou pelo porta-voz dos países qual a posição da China, vamos saber dos próprios chineses ¿ disse o ministro.

Os EUA sinalizaram à comitiva brasileira que não pretendem encaminhar a votação de sanções ao Conselho de Segurança da ONU antes de julho. A Casa Branca teme que o delicado tema atrapalhe as negociações da revisão do Tratado de Não Proliferação (TNP), que ocorrerão no mês que vem, em Nova York.

O Brasil espera poder resolver o impasse da questão iraniana com a viagem do presidente Lula a Teerã, também em maio. (F.E. e M.M)