Título: Irã sugere mediação de Lula junto aos EUA
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 14/04/2010, O Mundo, p. 30

Comitiva de empresários brasileiros atrai o interesse de pelo menos 150 investidores iranianos em Teerã

TEERÃ. O governo do Irã aproveitou a ida de uma missão de empresários e autoridades brasileiros, chefiada pelo ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, para transmitir, sutilmente, uma mensagem ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva: o Brasil poderia mediar um diálogo entre o líder Mahmoud Ahmadinejad e o presidente americano, Barack Obama, defensor de sanções imediatas aos iranianos.

A proposta foi aventada por uma alta autoridade iraniana durante a reunião com Miguel Jorge e outros representantes do governo brasileiro, em Teerã.

O ministro não deu qualquer resposta, mas, segundo um dos participantes do encontro, a mudança na posição de Ahmadinejad ¿ que não tem poupado ataques aos EUA e a outros defensores de sanções ¿ se deve às declarações ambíguas vindas da China, hesitante quanto ao apoio às restrições.

Além de ter o Brasil como mediador, o Irã gostaria de ver uma atitude mais assertiva do presidente Lula quanto à defesa do programa nuclear para fins pacíficos naquele país.

¿ Sempre dissemos ao governo iraniano que não somos Venezuela ou Cuba. Somos pragmáticos. Defendemos todas as possibilidades de diálogo, mas não mais do que isso ¿ afirmou uma fonte.

Camisa da seleção de presente a Ahmadinejad Miguel Jorge foi recebido ontem por Ahmadinejad no palácio presidencial. No encontro, que durou cerca de meia hora, o ministro deu de presente uma camisa da seleção brasileira a Ahmadinejad e entregou-lhe uma carta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, destacando a importância do aumento dos investimentos e do comércio bilateral.

Na carta, Lula não mencionou o impasse em torno da questão nuclear.

O Brasil preenche três requisitos básicos para a diplomacia iraniana: tem uma política externa independente, empresta credibilidade à inserção internacional do Irã, e produz boa parte das maiores demandas do país, sobretudo nos agronegócios.

Por esses motivos, a presença da missão de 86 empresários brasileiros de 13 setores atraiu a atenção de pelo menos 150 empresários iranianos.

Sanções já existentes atrapalham comércio direto A expectativa é de que sejam anunciadas medidas para ampliar os investimentos e o comércio entre os dois países durante a visita de Lula, prevista para 14 de maio. A redução de tarifas de importação de bens iranianos, facilidades de crédito às exportações para o mercado iraniano e a possibilidade de um acordo entre Irã e Mercosul também estarão sobre a mesa.

Ontem, o ministro da Economia, Guido Mantega, disse que o Brasil financiará exportações de alimentos ao Irã. Mas, apesar dos projetos, o ministro Miguel Jorge destacou que não há ainda uma resolução oficial brasileira sobre o aumento das exportações para o país. Isso porque, entre as sanções econômicas já em vigor, está uma que não permite que instituições financeiras aceitem cartas de crédito de bancos iranianos. Outro obstáculo é a ausência de bancos internacionais no Irã ¿ obrigando os financiamentos a serem feitos em bancos na Arábia Saudita.

Ontem, os empresários passaram o dia discutindo a venda de produtos brasileiros como móveis, bombas hidráulicas, autopeças e alimentos. À noite, o grupo embarcou para o Egito e amanhã, segue para o Líbano.

Para o governo brasileiro, a região é estratégica para ampliar as exportações brasileiras, fortemente abaladas pelo desaquecimento da economia mundial e a concorrência chinesa.

¿ Venham para a região, pois os chineses também já estão aqui ¿ disse Miguel Jorge aos empresários.