Título: Sucessão de erros no sistema penal
Autor: Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 19/04/2010, O País, p. 3

A morte do pedófilo Adimar da Silva dentro de uma cela do Denarc de Goiânia é considerada por especialistas como o desfecho provocado por uma sequência de erros. Entre eles: deixar um preso com um perfil de psicopata detido em uma delegacia.

¿ Evidentemente houve uma negligência na administração penitenciária local. Um homem como este deveria ter sido levado imediatamente a um hospital de custódia ¿ avalia a socióloga Julita Lemgruber, coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec) da Universidade Cândido Mendes. ¿ Este caso expõe uma série de mazelas do sistema penitenciário brasileiro.

O número insuficiente de psiquiatras é um dos problemas crônicos.

Quem conhece de perto esta rotina dentro dos presídios identifica de imediato esta deficiência.

¿ Um psiquiatra atende até 50 presos em um só dia. Não dá para fazer um exame criterioso desta forma. Chegam a fazer uma entrevista em cinco minutos e assinam o laudo ¿ conta Leonardo Guida, coordenador do núcleo do sistema penitenciário da Defensoria Púbica do Estado do Rio de Janeiro.

Para ele, houve uma banalização dos exames criminológicos realizados por psiquiatras dentro do sistema carcerário.

¿ A avaliação psiquiátrica é requisitada em casos variados de condicional, incluindo os crimes sem violência. Isso acaba sobrecarregando ainda mais estes profissionais¿ acrescenta Guida.

No mês passado, a ONU questionou o governo brasileiro por casos de superlotação, tortura e mortes constatados em presídios do Espírito Santo. A permanência de presos em delegacias foi outro ponto criticado.

No Brasil, dos 473 mil presos do sistema carcerário, mais de 56 mil estão detidos de forma irregular em delegacias. A situação é mais grave na Bahia, onde 42% dos presos permanecem confinados em celas provisórias.

Quando um dos detentos aparenta ser um psicopata, a situação se agrava ainda mais.

¿ O próprio presidente do STF reconheceu a falência do sistema penitenciário. Este caso é emblemático: lidar com criminosos é difícil, mas lidar com criminosos que apresentam algum distúrbio mental é ainda mais complicado ¿ ressalta Julita Lemgruber.