Título: E líderes pressionam para elevar benefícios
Autor: Doca, Geralda; Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 15/04/2010, O País, p. 3

Aliados afirmam que vão aprovar 7,7%. Mantega diz ser contra; Lula, que vai avaliar

BRASÍLIA e SÃO PAULO. Sem acordo com o governo, líderes de partidos aliados decidiram votar até o dia 27 a medida provisória 475 - que concede 6,14% de reajuste para os aposentados que ganham mais do que um salário mínimo -, mas avisaram que a maioria deve aprovar reajuste de 7,7%. Como relator da MP, o líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), anunciou que fixará em seu parecer um reajuste de 7%, acordado com o próprio presidente Lula.

Mas, numa demonstração de desorganização do governo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que era contra qualquer reajuste maior do que os 6,14%, já concedidos e que começaram a ser pagos em janeiro. Mantega disse que pedirá a Lula que vete qualquer índice acima de 6,14%. Em São Paulo, ao comentar o assunto, o presidente não quis adiantar se vetará aumento acima de 6,14%:

- Vocês sabem que a gente não pode tomar decisões antecipadas sem saber o que o Congresso vai aprovar ou não. O governo tinha um acordo feito com as centrais sindicais, e esse acordo foi para o Congresso Nacional, e lá houve emendas. Então, vou esperar votar, e quando isso chegar à minha mesa, tranquilamente, vou tomar a decisão do que fazer. Não posso nem dizer que vou manter nem que não vou manter. Preciso saber quais (...) as condições da Previdência para suportar isso (...). Tenho que levar em conta a disponibilidade do dinheiro, que é do próprio trabalhador.

Os líderes governistas da Câmara avisaram a Vaccarezza que não aceitam aprovar índice diferente do que deverá ser aprovado depois no Senado, que já fechou acordo em 7,7%. Mostrando a divisão entre os governistas, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), reafirmou ontem o acordo, alegando que "não há condições políticas de se aprovar um valor menor".

A proposta de reajuste de 7% representa gasto adicional de R$1,1 bilhão ao ano, em relação ao aumento de 6,14%. O reajuste de 7,7% representa gasto a mais de R$1,6 bilhão ao ano.

Na tentativa de acordo, Vaccarezza se reuniu ontem à tarde com o presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), que lidera a campanha pelos 7,7%; o líder do PSB na Câmara, deputado Rodrigo Rollemberg (DF); e outros parlamentares e senadores, como Paulo Paim (PT-RS), autor dos projetos que mudam regras de aposentadoria.

Vaccarezza insistiu que o limite do governo era 7%, mas a possibilidade de consenso ruiu quando foi anunciado pelos senadores que Jucá e o PMDB do Senado mantinham o apoio aos 7,7% - resultado da aplicação da inflação do período mais 80% do PIB de 2008. O governo concedeu 6,14%, equivalentes à inflação mais 50% do PIB. Vaccarezza quer dar 7%, equivalentes à inflação mais 67,25% do PIB.

- Não estou sozinho nisso (na defesa dos 7%), estou com o presidente Lula - disse Vaccarezza.

Os líderes aliados temem o desgaste eleitoral que teriam, ao aprovar um índice menor do que o defendido pelos senadores.

- A gente não quer derrotar o nosso governo. Queremos convencer o governo - disse o líder do PMDB na Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (RN).

- O governo tem que entender que não tem jeito, que vão se aprovar os 7,7%. Vamos votar até dia 27 - resumiu o líder do PSB na Câmara, Rodrigo Rollemberg (DF).

COLABORARAM Cristiane Jungblut e Flávio Freire