Título: Morte no quintal de Lula
Autor: Alves, Renato
Fonte: Correio Braziliense, 11/06/2009, Cidades, p. 25

Militar de 25 anos, lotado no regimento responsável pela segurança do presidente da República, é executado com três disparos de fuzil por um soldado. Crime ocorreu dentro da residência oficial da Granja do Torto

Local ficou isolado após o assassinato. Autor não teve o nome divulgado. Em nota oficial, presidente Lula lamentou ¿profundamente¿ o episódio O cabo Jefferson de Oliveira Santos, 25 anos, foi executado com três tiros de fuzil, ontem de manhã, na Residência Oficial Granja do Torto, a casa de campo do presidente da República. O militar, levado com vida ao Hospital das Forças Armadas (HFA), morreu uma hora após receber atendimento médico. O assassino é um soldado, que não teve o nome revelado pelo Exército, responsável pela investigação.

O Exército e a Presidência da República não deram detalhes do crime. O Correio apurou que o cabo não teve chance de defesa. Após breve discussão, às 9h50, o soldado foi ao banheiro do recinto destinado aos militares, desengatilhou a arma, voltou e deu um tiro no superior, sentado em um banco de madeira e escorado na parede. Caído, o cabo levou outros dois tiros à queima-roupa.

Depois dos disparos, o soldado baixou o fuzil e sentou no mesmo banco. Ele não esboçou reação, muito menos tentou fugir. As cenas foram descritas por cinco trabalhadores de uma empresa terceirizada que passaram o dia cortando a grama dos imensos jardins da residência oficial. Todos pediram para não ter os nomes revelados, por medo de represálias.

O assassinato ocorreu no início do plantão da vítima e do acusado, ambos lotados no 1º Regimento de Cavalaria de Guardas, mais conhecido como Dragões da Independência (veja ao lado). O cabo morreu às 11h05. O soldado está preso desde a tarde de ontem no Batalhão da Polícia do Exército, no Setor Militar Urbano. A arma do crime, um fuzil automático leve (FAL) 7,62mm, acabou apreendida.

Choque hemorrágico Jefferson Santos deu entrada no HFA conversando, mas com anemia aguda e choque hemorrágico. Levado para o centro cirúrgico, não resistiu após uma parada cardíaca. As balas acertaram o quadril e o pescoço dele. O cabo estava no Exército havia seis anos. Era tido como militar exemplar.

O soldado foi interrogado, junto com os colegas que presenciaram os tiros, por integrantes da Polícia do Exército ainda na Granja do Torto, de onde ele saiu escoltado em um carro da corporação. Após o crime, homens da Polícia do Exército também iniciaram uma perícia no local da tragédia. As provas farão parte do Inquérito Policial Militar (IPM) aberto no mesmo dia.

Delegados e agentes das polícias Civil e Federal também foram à residência oficial, mas não assumiram o caso por se tratar de crime militar. ¿Nossos peritos (da Polícia Civil do Distrito Federal) vão apenas dar apoio¿, explicou o delegado Antônio Romeiro, chefe da 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte), responsável pelos crimes comuns daquela região.

Presidente consternado Os turnos de guarda na residência do Torto são feitos por um sargento, dois cabos e 20 soldados. Após duas horas de vigília, cada integrante da guarda descansa quatro, até completar um turno de 24 horas. O Torto é usado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva como uma espécie de casa de fim de semana, para lazer dele e da família (veja Para saber mais).

Nem o presidente nem os parentes estavam na residência, usada também para reuniões ministeriais e confraternizações. Lula lamentou ¿profundamente¿ a morte do cabo, segundo o porta-voz da Presidência, Marcelo Baumbach. No momento do assassinato, o presidente despachava no Palácio da Alvorada, a 15km do local do crime.

O Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República limitou-se a divulgar uma nota curta na qual informa que os tiros ocorreram na manhã de ontem e que o cabo chegou a ser conduzido ao HFA. O GSI comunicou ainda que nome do soldado será mantido em sigilo até ser definido o militar que conduzirá o IPM, mas não disse quando isso ocorrerá.

Mudança na seleção Após o crime, o Exército informou que pode rever o processo de seleção dos integrantes da guarda presidencial. Os responsáveis pela segurança do presidente e dos palácios de Brasília são escolhidos por meio de testes físicos, de tiro e psicológico.