Título: Na Bahia, cofres abertos para paróquias de Geddel
Autor: Fabrini, Fábio
Fonte: O Globo, 18/04/2010, O País, p. 9

Em 2009, prefeituras do PMDB receberam 88% da verba que ex-ministro, e candidato ao governo, destinou ao estado

SALVADOR. Prefeituras administradas pelo PMDB foram o destino de quase todo o dinheiro pago em 2009 a municípios da Bahia pelo Ministério da Integração Nacional, comandado, até o fim de março, pelo peemedebista Geddel Vieira Lima, pré-candidato ao governo do estado. No período, jorraram para gestores do partido R$ 223,8 milhões, nada menos que 88% de tudo o que foi repassado às cidades baianas (R$ 254,9 milhões). Os dados constam de levantamento do Contas Abertas, feito a pedido do GLOBO, com base nas ordens bancárias da pasta.

O restante do bolo, uma fatia de 12% (R$ 31 milhões), foi repartido entre outras 14 legendas.

Cidades dirigidas pelo PT, do governador Jaques Wagner, pré-candidato à reeleição, ficaram num longínquo segundo lugar (5,3%), seguidas das do PSDB (2,1%), que apoiará o exgovernador Paulo Souto (DEM).

As transferências se referem às mais diversas ações do ministério, que, segundo prefeitos que não darão sustentação a Geddel nas eleições, virou balcão para negociações políticas.

¿É uma absoluta inverdade¿, responde Geddel Em conversas com o GLOBO, alguns deles admitiram que, na tentativa de obter verbas na pasta, foram pressionados a aderir à candidatura do peemedebista.

Prefeito de Piripá, com 13,3 mil habitantes, Anfrísio Barbosa Rocha (PDT) contou que, em troca de verba para obras de pavimentação no município, o ministro pediu que ele gravasse declarações de apoio: ¿ Estive no ministério para articular um convênio de calçamento.

Só que ele afirmou que só faria se (eu) gravasse uma entrevista dizendo que, a partir daquele momento, estaria apoiando o ministro Geddel para governador da Bahia.

Segundo o administrador, a proposta teria sido feita em Brasília, há cerca de 40 dias. Em conversas reservadas, outros prefeitos que não integram o grupo de Geddel relataram a prática de barganhar verbas por apoio; ou mesmo a dificuldade de receber repasses. Prefeito de Érico Cardoso (10,7 mil moradores), João Paulo de Souza (PT) reclamou que os recursos para a construção de três pontes, por meio de um convênio já assinado, não saem. Perguntado se recebeu proposta para gravar apoio a Geddel, respondeu: ¿ O ministro não (fez proposta).

Mas outra pessoa do ministério fez.

Também petista, o prefeito de Itapetinga (66,6 mil habitantes), José Carlos Cruz Moura, afirma que os recursos para a construção de canais em quatro bairros do município secaram logo que ele venceu as eleições de um peemedebista em 2008. O convênio prevê R$ 6,8 milhões, dos quais R$ 1,6 milhão chegaram.

Geddel nega barganha: ¿ É uma absoluta inverdade, o que é próprio da disputa eleitoral.

Os dados do Contas Abertas expressam o desequilíbrio nos repasses entre os estados. Enquanto os municípios da Bahia ficaram com 45,9% do dinheiro pago, Mato Grosso, o segundo colocado, teve R$ 41,8 milhões (7,5%), à frente de Rio Grande do Sul (7%, R$ 38,8 milhões) e Pernambuco (5,4%, R$ 30,4 milhões).

O Rio ficou em 15o, com R$ 6,1 milhões.

A gestão de Geddel no ministério coincide com a ascensão do PMDB na Bahia. O partido tem hoje 115 prefeitos, 27% do total (417). Muitos migraram do DEM, berço dos carlistas, que tentarão voltar ao Palácio de Ondina com Paulo Souto. Ao todo, 137 municípios receberam pagamentos do ministério ano passado, sendo que 46% eram comandados por correligionários do ex-ministro.

Geddel informou desconhecer os dados da Contas Abertas, mas ponderou que os pagamentos feitos em 2009 podem ser de convênios assinados antes de sua nomeação para o cargo de ministro, em março de 2007 : ¿ Há obras que estão empenhadas há muito tempo.

Ele disse que muitos empreendimentos são do PAC, gerenciado pela Casa Civil, e estavam fora de seu arbítrio. Além disso, esclareceu que as ações da Integração são, tradicionalmente, voltadas para o Nordeste, região mais pobre e que concentra a maior parte do semiárido.