Título: Papel ainda dúbio no clube dos trilhões
Autor: Oswald, Vivian; Beck, Martha
Fonte: O Globo, 17/04/2010, Economia, p. 28

Para "Economist", Bric tem força econômica, mas falta coerência histórica A revista britânica ¿Economist¿ traz esta semana um extenso artigo sobre o Bric, o grupo de grandes emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia e China. A matéria ressalta a importância do bloco na conjuntura internacional, mas afirma que ainda não está claro o seu papel histórico, no sentido do estabelecimento de uma nova ordem econômica e política mundial. A ¿Economist¿ batiza o Bric como o ¿clube dos trilhões de dólares¿, em referência ao Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos) de cada país, mas destaca que a importância individual de cada ¿gigante emergente¿ ainda supera o seu papel como grupo.

No lado econômico, a revista compara a forma como os Bric entraram e saíram da crise financeira global com a dos países ricos, sobretudo os da União Europeia. Politicamente, o papel de cada nação nas discussões do clima, por exemplo, reforçaram o prestígio e a importância do bloco no debate sobre questões centrais, permitindo inclusive o pleito de maior representatividade dos organismos multilaterais, loteados pelas nações do chamado G-7. A formação do G-20 seria o resultado prático desse reconhecimento internacional.

A revista também menciona a segunda reunião de cúpula do Bric, realizada em Brasília e encerrada na quinta-feira, destacando ainda a presença da África do Sul, em um encontro paralelo.

Se a primeira cúpula, na Rússia, não produziu resultados concretos, ela serviu para pavimentar um caminho que culminou no encontro de Brasília, marcado por reuniões paralelas entre representantes comerciais, presidentes de bancos centrais e ministros de Finanças e Relações Exteriores. A ¿Economist¿ menciona a proposta de criação de um banco de fomento do bloco, um ¿BNDES do Bric¿.

O artigo indaga, porém, que diferença poderá fazer o bloco.

E responde analisando aspectos econômico e políticos dos quatro países. ¿Estará o Bric criando um momento próprio? Se a resposta for positiva, que diferença isso fará?¿.

Poder do bloco está na influencia sobre países ricos A revista lembra que o bloco é relevante sobretudo por seu peso econômico. E o sinal mais conspícuo desse peso é o tamanho das reservas soberanas.

Brasil, Rússia, Índia e China estão entre as dez nações com maiores reservas, representando, juntos, 40% das reservas totais do mundo.

Só a China, lembra o artigo, tem impressionantes US$ 2,4 trilhões.

E a Rússia, US$ 420 bilhões.

Esses volumes criaram colchões contra as turbulências e ajudaram a fortalecer o Bric como potência econômica.

O artigo cita Mathias Spektor, da Fundação Getulio Vargas, afirmando que os Bric ¿não são exatamente uma alternativa ao Consenso de Washington, mas o bloco oferece outros modelos e estão efetivamente expressando algo distinto no campo econômico¿.

A ¿Economist¿ conclui afirmando que os Bric não têm coerência ¿legal, histórica e geográfica, da mesma forma que a União Europeia¿. Talvez seu maior papel seja o de pressionar os países ricos a mudarem suas formas de administrar a economia global.