Título: Especialista defende diversificação
Autor: Paul, Gustavo; Melo, Liana; Ribeiro, Fabiana
Fonte: O Globo, 20/04/2010, Economia, p. 23

Perfil energético do país é concentrado e privilegia setores eletrointensivos

A usina hidrelétrica de Belo Monte está sendo construída para abastecer setores eletrointensivos, que chegam a consumir até 30% de toda a energia do país. São setores, como mineradoras, siderúrgicas e cimenteiras, que consomem muita energia e geram pouco emprego, além de viverem da exportação de um produto de baixo valor agregado.

O diagnóstico é do professor Célio Bermann, do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (USP). Ele acredita que, para satisfazer o desejo de alguns setores da indústria, o governo superdimensionou a necessidade de geração de energia no país.

¿ Precisamos diversificar a matriz energética, que é altamente dependente das hidrelétricas, e também o perfil do parque industrial, muito concentrado em setores eletrointensivos ¿ analisou, acrescentando que Belo Monte será construída para satisfazer a demanda ¿de grandes grupos mínero-metalúrgicos que produzem bens de baixo valor agregado e de alto conteúdo energético¿.

Hidrelétrica é a opção, garante governo

Apesar das críticas, o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, está convencido de que a opção por hidrelétricas, incluindo Belo Monte, é, no momento, a mais indicada para o Brasil. Ele acrescenta que vem crescendo de importância na matriz energética a geração via biomassa e eólica. E conclui afirmando que os europeus gostariam mesmo é de ter uma matriz energética similar à brasileira: ¿ Tudo que o europeu gostaria era ter nossa capacidade hídrica. Na Inglaterra, mais de 50% da energia elétrica vêm do carvão.

Para o diretor da Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Luiz Pinguelli Rosa, a matriz elétrica brasileira está ficando suja e cara. Indignado com esse perfil, ele chama atenção para o fato de que, na última década, 70% de toda energia acrescida à matriz elétrica vieram de térmicas.

Copiar modelo europeu é colonizador

Dados da EPE comprovam que a geração hidrelétrica, que, nos anos 1999, representavam 17,2% da matriz energética brasileira, caiu para 13,4%, em 2008. Já a produção à base de carvão, que era zero há 11 anos, no ano passado já correspondia a 0,1%.

¿ É muito colonizador utilizarmos os paradigmas do Primeiro Mundo, que começa a investir em eólica. Ainda que eles tenham exemplos para mostrar, estas fontes são fortemente subsidiadas ¿ afirmou Bruno Barretto, chefe da assessoria de Planejamento Estratégico da Eletrobras.

Barretto está convencido de que com a tecnologia disponível às pequenas centrais elétricas, usinas de biomassas e eólicas se apresentam como uma ¿opção de complementariedade em micro regiões¿. É que ela não oferecem um sistema de segurança adequado.