Título: Ainda Belo Monte
Autor: Paul, Gustavo; Melo, Liana; Ribeiro, Fabiana
Fonte: O Globo, 20/04/2010, Economia, p. 23

Associações, investidores, governo, consumidores, técnicos, jornalistas, cineastas, curiosos e pessoas comuns da sociedade têm lido, escrito e conversado sobre Belo Monte.

A discussão gira em torno de custos, dificuldades de construção, agressões à floresta, aos silvícolas, e às pessoas que habitam a região da hidrelétrica e na área de sua influencia, inclusive onde serão implantadas as linhas de transmissão que ligarão a usina ao Sistema Interligado Nacional.

A exatidão dos elementos em discussão infelizmente somente poderá ser conhecida quando o projeto vier a ser concluído, após ter percorrido uma verdadeira via crucis que se estende por mais de 35 anos desde os estudos iniciais. Isso considerando que o leilão será realizado como previsto.

A repercussão que causa projetos de usinas na região amazônica já é mundial. O que acontecer selará a verdade para o aproveitamento de mais de 60.000 MW no país, mais de 10.000 MW no Peru e outro tanto na Colômbia.

O que está em questão é, do ponto de vista ambiental e executivo, a ação emocional desprovida do bom senso. O projeto atrai emoções desde que se chamava Kararaô. E, mesmo tendo mudado de nome e reestudado, não deixou de causar calafrios em alguns e êxtase em outros.

O fato é que os 50% a 51% da participação privada em Belo Monte ¿ ou de fundos de pensão como se cogita ¿ pelos números do governo significariam cerca de R$ 8 bilhões no funding do projeto para ser aplicado num empreendimento na Amazônia, longe dos centros de carga.

Ora, este montante poderia ser aplicado na construção de uma usina nuclear gerando intermitentemente durante todo o ano, próximo aos centros de carga sem sobrecarregar as linhas de transmissão. O empreendedor estaria vendendo a energia a um preço no mínimo igual àquele que as atuais usinas vendem, cerca de R$140/MWh e muito provavelmente poderá ser vendida ao mercado a cerca de R$ 160/MWh, quase o dobro do preço que Belo Monte.

Depois do summit patrocinado pelo governo americano sobre o uso da energia nuclear para fins pacíficos, o programa brasileiro toma impulso para utilizar as suas colossais reservas deste combustível e não faltariam financiamentos.

As tecnologias para sua construção avançaram bastante e os ambientalistas reconhecem hoje, que se impacto é controlável e no efeito estufa é desprezível.

Caberia perguntar o porquê da insistência para a implantação do empreendimento se a voz unânime indica que há que escutar a sociedade. Há alternativas reais como a nuclear e não as de brincadeirinha, como geração eólica, biomassa e outras como pequenas centrais hidrelétricas (PCHs).

Contrário senso, a idéia que o adiamento da licitação e a reformulação das condições interpostas, seria uma derrota do governo, queremos crer que seria uma demonstração de segurança e competência na condução dos interesses da nação sem riscos para a sociedade.

ADRIANO PIRES é diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie).

ABEL HOLTZ é engenheiro e consultor de energia e negócios da Abel Holtz & Associados.