Título: Acordo para voar
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Fonte: O Globo, 20/04/2010, O Mundo, p. 29

Sob pressão, UE cria zonas de voo para aliviar restrições. Mas nova nuvem assusta os britânicos

LONDRES

Sob intensa pressão das companhias aéreas, os ministros de Transportes dos países da União Europeia chegaram a um acordo para diminuir as restrições de voo e aliviar a crise aérea que afeta o continente desde que uma gigantesca nuvem vulcânica comprometeu o seu espaço aéreo na quarta-feira passada.

Hoje, quase a metade dos voos deve ser retomada. Mas a normalização da situação, que já afeta quase 7 milhões de passageiros e gera prejuízos de mais de US$ 1 bilhão, não é garantida, pois uma nova nuvem vulcânica pode alcançar o Reino Unido.

Impossibilitados de voar, os ministros chegaram a um acordo por videoconferência.

A proposta da Eurocontrol, a agência de aviação europeia, estabelece três zonas de voo, num modelo mais parecido com o americano: uma zona proibida, estabelecida pelas autoridades e com base na previsão do Centro de Alerta de Cinzas Vulcânicas; uma zona de controle, na qual os aviões podem voar, mas ficam sujeitos a checagem após o pouso; e uma terceira zona, livre das cinzas.

Para garantir a segurança, serão feitos testes e fornecidas previsões meteorológicas a cada seis horas.

¿ A partir da manhã (de hoje), vamos ver progressivamente mais aviões voando ¿ disse o comissário da UE para Transportes, Siim Kallas.

Alguns países, no entanto, mantinham uma atitude cautelosa, com a Holanda dizendo que seu espaço aéreo pode voltar a ser fechado se as cinzas aumentarem. Segundo um diplomata em Bruxelas, vários caças F16 da Otan voltaram ontem de um voo na Europa com depósitos de cinzas nos motores. O Reino Unido, por sua vez, vivia um clima de expectativa. ¿A erupção vulcânica na Islândia aumentou e uma nova nuvem de cinzas está vindo em direção ao Reino Unido¿, informou o Serviço de Tráfego Aéreo britânico.

A nuvem ontem chegou à costa canadense.

Mas acredita-se que os ventos mudem de direção e que ela não avance na América do Norte.

Mesmo antes do acordo, países como Reino Unido, Alemanha e França anunciaram que começariam a reabrir seu espaço aéreo hoje. A França, por exemplo, anunciou corredores aéreos entre Paris e o sul do país. Outros liberaram o espaço aéreo para voos a partir de determinada altitude, como Dinamarca, Suíça e Turquia. A Espanha, onde o espaço aéreo está aberto, ofereceu seus aeroportos como parada para que os passageiros consigam entrar e sair da Europa. A maior parte dos voos da Ásia para o continente, no entanto, continua cancelada.

Aviões começam a partir de Guarulhos

A tensão era grande. No Aeroporto de Incheon, na Coreia do Sul, passageiros revoltados bloquearam o balcão da Korean Air, exigindo um voo para qualquer país da Europa.

¿ Precisamos de um voo ¿ disse o francês Thierry Loison, preso no aeroporto desde sexta-feira.

Outros, na Europa, queixavam-se dos preços das passagens de trem, que triplicaram. Graham Wishart, retido em Londres depois que o voo para Toronto foi cancelado, disse que a diária de seu hotel saltou de US$ 104 para US$ 289.

A situação se torna mais difícil à medida que passam os dias. Filas gigantescas são vistas em estações rodoviárias, ferroviárias e de barcas. O canadense Mark Bokenfohr enfrentou uma odisseia para ir da Itália para a Noruega.

Ele passou quatro horas na fila de uma estação ferroviária, trocou cinco vezes de trem para chegar a um porto na Dinamarca, pegou uma barca para a Noruega e alugou um carro para chegar à cidade de Bergen.

¿ Viajamos no trem como sardinhas em lata ¿ disse à BBC.

Menos de um terço dos voos previstos para ontem decolou. E, para hoje, a previsão é que 40% a 45% deles fossem retomados. Segundo as companhias aéreas, o impacto econômico é pior do que o causado pelo atentado de 11 de setembro de 2001, quando o espaço aéreo americano ficou fechado por três dias. Diante dos prejuízos, a Comissão Europeia estuda uma compensação para as empresas.

O vulcão Eyjafjallajokull lançou menos fumaça ontem, mas cientistas advertem que a erupção ainda não acabou e que outros vulcões da região podem entrar em atividade.

Ontem, os primeiros voos da KLM começaram a partir de Amsterdã. Os aeroportos da Escócia reabririam hoje de manhã e que no fim do dia, Heathrow, em Londres, poderia voltar a operar. A Air France, por sua vez, deve retomar os voos de longa distância para os aeroportos Charles de Gaulle e Orly, em Paris, hoje.

Alguns voos voltaram a partir ontem à tarde de São Paulo para a Europa.

Apesar disso, 13 partidas e oito chegadas deixaram de acontecer no Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos.

Às 18h30m, partiu um voo da Swiss para Zurique, na Suíça.

Às 19h, estava prevista a saída de um avião da Lufthansa para Munique, na Alemanha.

Um avião da KLM com destino a Amsterdã, na Holanda, partiria às 19h15m. A expectativa é que hoje voltem os voos da Air France para Paris. A TAM informou que assim que a situação for normalizada serão colocados voos extras.

No Rio, cinco partidas do Galeão com destino à Europa foram canceladas ontem.

O mesmo aconteceu com os voos que deveriam ter chegado de Paris e Londres.

COLABORARAM: Sergio Ramalho (Rio), Marcelle Ribeiro e Sérgio Roxo (São Paulo)