Título: Leilão lembra privatização de teles
Autor: D¿Ercole, Ronaldo; Rodrigues, Lino
Fonte: O Globo, 21/04/2010, Economia, p. 24

A forma como o governo conduziu a licitação de Belo Monte lembra, para alguns analistas, as polêmicas criadas em 1998 para o leilão da Telebrás. Em comum, a guerra de liminares e uma forte participação estatal, que chegou a estimular a formação de grupos para criar uma competição.

Naquela ocasião, o grupo que disputou a Telemar, hoje Oi, chegou a ser chamado de ¿telegangue¿ em conversas telefônicas grampeadas de Luiz Carlos Mendonça de Barros, então ministro das Comunicações.

O grupo era visto como um consórcio que só participaria do leilão para aumentar a concorrência e que acabaria sem nada, por falta de capacidade financeira.

Venceu.

O mesmo ocorreu com o grupo vencedor do leilão de Belo Monte, capitaneado pelo Bertin. Oriundo do setor de carnes, embora com concessão de rodovias, o grupo não era levado a sério ¿ até por sempre se apresentar em momentos críticos para o governo ¿ quando anunciou com pompa o interesse no leilão do trem de alta velocidade em um momento em que diversos grupos demonstravam ceticismo com o projeto.

Para Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), o o atual leilão é fruto da má condução do governo no tema. Segundo ele, várias surpresas desagradáveis surgiram esta semana: ¿ Houve a desistência de Camargo Corrêa e Odebrecht, um consórcio feito às pressas para legitimar o leilão mas que acabou vencendo, um pacote de bondades em excesso...

Ele acredita que o consórcio, por falta de capacidade, acabará contratando grandes empreiteiras, retornando ao modo de atuação na construção de grandes obras do período militar. (Henrique Gomes Batista)